(desenho de Francisco Luís Fontinha)
Apago o apito da sinalização em direcção à paixão,
Percorro os trilhos construídos pelo cansaço,
Não tenho medo…
O salivar réptil das janelas do sonho,
O amor debruçado nas clarabóias da insónia,
Habito em ti, meu amor,
Pareço uma folha de papel brincando na fogueira dos beijos,
E nos teus lábios…
A seara envenenada por um rio clandestino,
A ponte,
A passagem para os teus seios,
Neste jardins de arbustos enganados,
Dormem,
Sentem o peso do teu corpo,
Voando como uma gaivota,
Tenho pregos no meu peito, meu amor,
Apago o apito das recordações,
Vivo nesta cidade procurando a tua sombra,
Nunca mais,
Vi barcos no Tejo,
Nunca mais, meu amor,
Vi os cadernos guardando as minhas palavras,
Estou só, meu amor,
Amando, meu amor, estarei sempre só…
Como as fotografias da minha infância,
Como eu te amo… meu amor,
As madrugada debruçadas nas carcaças da poesia,
Abutres comendo os meus olhos,
Sinto-te, meu amor, junto a mim…
A ponte,
A luz que acaricia a ponte,
Ela geme,
E grita,
O orgasmo metálico das treliças,
O masturbar dos pilares em cada olhar,
Firme,
Ela sabe que amanhã não haverá noite,
Palavras,
E desejo…
Mesmo assim, meu amor,
Lisboa é a minha amante secreta…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Agosto de 2015
(desenho de Francisco Luís Fontinha)
Escondo-me nesta cidade de sombras, vou à janela e oiço o fogo das imagens prateadas no corpo inabitado, preciso de ver o mar, os barcos, os corações acorrentados à geada, escondo-me
- Acordei nas alegres palavras do silêncio folheando fotografias embainhadas nas bocas sonolentas da madrugada, fui ao espelho, do meu esqueleto saltitou a paixão, percebi que o amor… é uma estrada infinita,
No cais assombrado pelas palavras, sinto o cigarro do meu sonho, escrevo pensando que o sono é um espelho de algas finas, frágeis, quebradiças quando da tempestade,
- Então pá?
Nada,
Amanhã o perfumado piloto da minha jangada,
- Então pá?
Não o sei, tinha na mão a sangrenta visão das serpentes da noite, sabia o meu nome, percebia que eu era apenas uma pedra em granito, frio, cansado das horas travestidas de medo e lágrimas, cinco minutos debaixo de uma árvore que aos poucos fui travando amizade, hoje
- Uma amiga vestida no Verão e nua no Inverno, são assim, as árvores do meu jardim, belas, fingidas de verde correndo os Musseques da forca,
Hoje, Musseques da forca, ruas enganadas pelo Tejo, recordo os Cacilheiro de lábios pintados e de mini-saia, e eu…
Escondo-me,
Parto para o sofrimento andaime das flores gigantes, a loucura encurralada nas ruas de Lisboa, ela ama-me
- Areia fina, rochedos cinzentos afagados nos meus braços, desço a Calçada, encontro-te na infinita poesia da manhã, o café recheado de promessas, amo-te,
Os amigos ao longe, olhavam-me, fotografavam-me com as mãos calejadas da velha espingarda com balas de papel, ria-me, chorava, perdia-me
- No teu corpo, entardecia nos teus seios,
Então pá?
Desciam as nuvens sobre o teu cabelo, escondia-me nas tuas coxas, e nem tu, e nem eu, sabíamos que um dia chegaria a saudade, então, pá?
Nada,
No teu corpo, a prisão inventada por um louco verdadeiro, como o circo, eu sobre um arame invisível, corria, agachava-me nos teus lábios, as estrelas, as ruas, as casas, as “putas dentro das casas”… Então, pá?
Todos os vidros da janela do amor entre beijos na estrada infinita…
- Então, pá?
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 1 de Agosto de 2015