Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Nov 15

Assim temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite,

Oiço-te, minha querida, nas campânulas do sonambulismo organizado, a saliva da tarde no púbis do teu silêncio de abelha amestrada, os teus lábios masturbados nos meus, a loucura, o desejo, os cigarros em delírio… quando na lareira dormem algumas páginas do meu livro,

És indiferente à minha escrita, cagas nas minha palavras… minha querida, e confesso-te que também eu cago para as minhas palavras, é sábado, estás triste pela minha ausência, na TV porcarias embalsamadas, tristes, porcarias,

Do meu livro, o teu corpo está lá, acreditas, minha querida?

Todo ele, invisível sofrimento nas mandibulas do primeiro beijo

Amo-te

Do primeiro beijo, a fotografia aprisionada num velho álbum de fotografias, “um sorriso… olha o passarinho… já esta”, e eu parecendo um panasca com pulseira em oiro e pose de fantasma, sorria, tinha na boca o amargo beijo das clandestinas sanzalas de estanho, o zinco dormitava debaixo do sol, porra… isto é “fodido” … como é “fodido” amar-te em silêncio, como quadriculadas noites num velho caderno, as argolas tortas, todas, elas

“Amo-te seu cretino, candeeiro da noite, abstracto insecto dos charcos em flor, adeus, amanhã sacio-me em ti, elas

“Assim temos mais prazer, penso nos teus seios, imagino os teus broches literários sobre a velha secretária em madeira, gemes, ouvem-se os gonzos da solidão salitrarem sobre a cancela da noite”,

Elas agachadas junto aos semáforos do amor travestido de Ceia de Natal,

Odeio-o, odeio-a…

É sábado, não tenho ninguém, adormecem junto a mim livros, cachimbos e papeis, tenho medo, minha querida, tenho medo

O estranho vizinho de caneta na mão, adormecia todas as matrículas dos automóveis estacionados junto à porta de entrada, louco, louca,

Amar-te sem o saber

Odeio-a,

E sem o perceber…

 

(ficção)

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 22 de Novembro de 2015

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:35

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