(dedicado a Carvalhais – S. Pedro do Sul)
Diz-me que és
Noite amaldiçoada que me acorrenta à solidão
Prefiro a morte
Do que ausentar-me de ti
Não quero
E nunca quis…
Perder-te para a ilusão
Diz-me o que és
Sombra peregrina das manhãs de nevoeiro
Montanha desgovernada
Descendo a Calçada
Diz-me
Loiça de porcelana entre cigarros e algumas frestas de insónia
Nas pálpebras o imensurável coração de prata
O rio
A ribeira
A eira
O silêncio do sino da aldeia
Perdido nas espigas coloridas do milho
As abelhas poisadas nos teus ombros
A malvada da cidade
Em combustão
Sem idade
Identidade
Ou saudade
Feliz aquele que não tem saudades
Feliz aquele que não sabe o que é a saudade
A ausência
O medo de perder-te
De perder o teu perfume embriagado pelas begónias em papel
Saio de casa
Regresso sem ninguém
Vou a ela
E ela não vem
A noite das sentinelas de cartão
O texto saltitando na cabeça de um prego enferrujado
Suicídio
Suicidou-se com um beijo teu
Enrolou-o ao pescoço
Desceu alguns centímetros…
Foi-se
O poema
A manhã e a noite
Diz-me que és…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 4 de Dezembro de 2015