O tempo cessou de vomitar
As horas os minutos e os segundos
Estou só
Aqui
Converso com um invisível copo de uísque
Recordamos os momentos passados junto ao Tejo
O embriagado soldado
Subindo a Calçada da Ajuda
Com o Doutor Vijago debaixo do braço
Não sei se o tempo me quer
Ou se eu quero o tempo
Estou só
Aqui
Neste convés sem janelas
Neste mísero abraço
Aqui
Estou só
Converso com todos os fantasmas da noite
Reparo que um deles odeia-me
É tão fácil odiarem-me
Aqui
Olhando o sonífero luar nos términos da insónia
Sou pobre
Nada telho para te oferecer…
Apenas beijos e livros
Coisas insignificantes
Sem destino
Quando menino dormindo na sombra das mangueiras
O musseque fervilhava de paixão
Havia sexo
Orgias
Orgasmos
E gemidos
África é um Paraíso
Sem nome
Sem morada física
Como eu
Aqui
E só
Escrevendo parvoíces
Coisas que ninguém lê
Palavras
Palavras
Palavras do Diabo
Sem dono
Sem ser amado
A felicidade acorda nos teus lábios
Framboesa das manhãs sonolentas
Dos castiçais amedrontados do templo do amor
As aventuras das crianças pretas meus irmãos também
A morte regressava-lhes de vez em quando
E sorriam
Cantavam
Beijavam-me como se beijam os Coqueiros nas fotografias
E o tempo cessou de vomitar
As horas os minutos e os segundos
Estou só
Aqui
Só…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
terça-feira, 8 de Novembro de 2015