O silêncio olhar
Submerso na tempestade do fugitivo,
A vida sem sentido,
A vida… a vida encurralada numa ruela escura,
Triste,
Triste como as serpentes da paixão,
A luz da solidão
Nas engrenagens do desejo,
Depois… depois o beijo,
A caricia entranhada no cansaço corpo,
Nu,
Ao vento
Como uma bandeira sem Pátria,
Os gonzos da infância
Quando acorda o dia e os teus lábios pertencem às nuvens prateadas,
Tão simples
O silêncio olhar
Na boca do narciso…
O desassossego da alma
Na morte de ninguém,
Vegetativo o estonteante rio dos amores,
As floreiras sós,
Sem ninguém,
A vida sem sentido…
Triste,
Não,
Não sei amar um morto-vivo,
Não,
Não sei escrever na montanha do passado,
Tínhamos gaivotas,
Frango assado,
E felizes que éramos,
Com duas côdeas de pão
E um olhar de madrugada,
Amor,
Amor,
Desgraçada… a vida, a calçada,
Corro,
Desço,
Embriago-me nos teus seios,
E permaneço
Um esqueleto de vento,
Uma ténue limalha de sémen…
Não,
Não sei amar…
Amar é complicado,
Difícil,
Acordar,
De manhã
E tu não estás nos meus lençóis de pergaminho,
Fujo,
Escondo-me…
Viva o vinho,
A vinha,
E todas as amendoeiras em flor…
Corre, corre seu safado cliente dos nocturnos abismos,
Nunca tive sorte,
Nunca amei uma pomba,
Um papagaio em papel,
Uma praia,
Uma mangueira,
Uma criança procurando brincadeira,
Eu,
O menino de Luanda.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 9 de Janeiro de 2016