Não acredito,
Meu amor,
Que as tuas noites ingrimes
Sejam o teu desejo,
Porque não tens desejo,
Porque desejo-te não me desejando,
Como as obscuras noites de Inverno,
Como as tristes planícies do Alentejo,
Camufladas pelos teus beijos,
Não acredito, meu amor,
Na geometria,
Na física
E na sinfonia da loucura,
Pareço-te um prisioneiro,
Na cancela do adeus,
Esperando os circunflexos odores da madrugada,
Perdi a alma,
Perdia a minha amada,
Não,
Não acredito na minha infância,
Nunca tive infância,
Amor,
Amar,
Desamar…
A flor,
O guindaste da solidão
Submerso na minha mão,
Só e só…
Não acredito,
Meu amor,
Nas jangadas de vidro
Que se deitam na nossa cama,
Que nunca a tivemos,
Imaginária
Dentro da cabeça de um louco,
Tu,
Eu,
Nós…
Na loucura das sílabas amordaçadas,
O pedestre menino enrolado nas finas folhas do prazer,
Os vigaristas poetas
Roubam-me a poesia,
Roubam-me as palavras,
E eu,
Eu… acorrentado aos teus lábios,
Em papel crepe,
Vermelho,
O cansado abutre
Vestido de alegria,
O cansado abutre
Vestido de dia,
Não,
Não meu amor,
Não acredito nos teus lençóis
Nem nas tuas mãos à volta do meu pescoço,
Fingida manhã,
Triste manhã do meu acordar,
E morrer,
Sem saber a amar…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
domingo, 10 de Janeiro de 2016