Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

10
Jan 16

Não acredito,

Meu amor,

Que as tuas noites ingrimes

Sejam o teu desejo,

Porque não tens desejo,

Porque desejo-te não me desejando,

Como as obscuras noites de Inverno,

Como as tristes planícies do Alentejo,

Camufladas pelos teus beijos,

Não acredito, meu amor,

Na geometria,

Na física

E na sinfonia da loucura,

Pareço-te um prisioneiro,

Na cancela do adeus,

Esperando os circunflexos odores da madrugada,

Perdi a alma,

Perdia a minha amada,

Não,

Não acredito na minha infância,

Nunca tive infância,

Amor,

Amar,

Desamar…

A flor,

O guindaste da solidão

Submerso na minha mão,

Só e só…

Não acredito,

Meu amor,

Nas jangadas de vidro

Que se deitam na nossa cama,

Que nunca a tivemos,

Imaginária

Dentro da cabeça de um louco,

Tu,

Eu,

Nós…

Na loucura das sílabas amordaçadas,

O pedestre menino enrolado nas finas folhas do prazer,

Os vigaristas poetas

Roubam-me a poesia,

Roubam-me as palavras,

E eu,

Eu… acorrentado aos teus lábios,

Em papel crepe,

Vermelho,

O cansado abutre

Vestido de alegria,

O cansado abutre

Vestido de dia,

Não,

Não meu amor,

Não acredito nos teus lençóis

Nem nas tuas mãos à volta do meu pescoço,

Fingida manhã,

Triste manhã do meu acordar,

E morrer,

Sem saber a amar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 10 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:24

09
Jan 16

O silêncio olhar

Submerso na tempestade do fugitivo,

A vida sem sentido,

A vida… a vida encurralada numa ruela escura,

Triste,

Triste como as serpentes da paixão,

A luz da solidão

Nas engrenagens do desejo,

Depois… depois o beijo,

A caricia entranhada no cansaço corpo,

Nu,

Ao vento

Como uma bandeira sem Pátria,

Os gonzos da infância

Quando acorda o dia e os teus lábios pertencem às nuvens prateadas,

Tão simples

O silêncio olhar

Na boca do narciso…

O desassossego da alma

Na morte de ninguém,

Vegetativo o estonteante rio dos amores,

As floreiras sós,

Sem ninguém,

A vida sem sentido…

Triste,

Não,

Não sei amar um morto-vivo,

Não,

Não sei escrever na montanha do passado,

Tínhamos gaivotas,

Frango assado,

E felizes que éramos,

Com duas côdeas de pão

E um olhar de madrugada,

Amor,

Amor,

Desgraçada… a vida, a calçada,

Corro,

Desço,

Embriago-me nos teus seios,

E permaneço

Um esqueleto de vento,

Uma ténue limalha de sémen…

Não,

Não sei amar…

Amar é complicado,

Difícil,

Acordar,

De manhã

E tu não estás nos meus lençóis de pergaminho,

Fujo,

Escondo-me…

Viva o vinho,

A vinha,

E todas as amendoeiras em flor…

Corre, corre seu safado cliente dos nocturnos abismos,

Nunca tive sorte,

Nunca amei uma pomba,

Um papagaio em papel,

Uma praia,

Uma mangueira,

Uma criança procurando brincadeira,

Eu,

O menino de Luanda.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 9 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:07

07
Jan 16

O só menino

Comtemplando o rio,

Desenha socalcos na palma da mão,

Escreve poemas no coração,

O só menino

Não sabe chorar,

Dorme quando cai a noite e deixa-se absorver pelo ténue luar

E não conhece a escuridão,

O só menino

Sempre abraçado à fome da solidão,

Inventa gaivotas e tem no olhar

A penumbra madrugada,

E tem no peito,

O beijo

Do amanhecer,

Sem o saber

(Escreve poemas no coração),

Grita. Eu quero o mar.

E o mar vem a ele,

E leva-o,

E leva-o para outro lugar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 7 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:08

05
Jan 16

Sou um indigente conformado

Filho da noite quando a noite é noite

E do vento

Quando o vento é vento

Sou a palavra

Sou a jangada

Sou o esqueleto sem medo

Que habita numa calçada

Invisível

Apelidada de saudade

Sou um indigente saudável

Diplomado em perfumaria

Canso-me com a alegria

E choro com a melancolia

Sou triste

Aparente

Indigente

Agreste

Comestível às primeiras horas da manhã

Sou um indigente conformado

Sou gente

Que sente

O luar aprisionado

Num qualquer olhar

Numa qualquer cidade apilhada de fantasmas…

Sou um indigente

E sou homem do mar

Quando o mar era mar

E me trouxe

E eu vim

Vim aqui parar…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 5 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

04
Jan 16

Como se fôssemos duas caravelas à deriva na rua de uma qualquer cidade

Andávamos de maré em maré

De amarra em amarra

De luar em luar

Sem percebermos que o abismo habitava nas nossas algibeiras ténues

Sem nada para oferecermos

Como um circo ambulante

Como nós

De terra em terra

Palmilhando areias nunca antes desenhadas

Por duas crianças

Em busca do pôr-do-sol,

 

Veio a loucura

A paixão

O nocturno desejo dos pássaros…

E a morte das palavras na lápide da solidão,

 

Sou um corvo que nunca aprendeu a voar

Detesto putrefacção

Sou esquisito

Na alimentação

Gosto de cereais

Pequenas sementes

E pedacinhos de pão…

Como se fôssemos duas caravelas à deriva na rua de uma qualquer cidade

Não precisávamos de um rio

Mar

Ou o vento para abraçar as velas

Que se esconde na poja.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 4 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:47

03
Jan 16

Cansei-me da vida

Cansei-me do amor

Do dia em despedida

Nas mãos de uma flor

 

Cansei-me de ser eu

Sempre o alpendre nocturno do adeus

Cansei-me das cidades de vidro

E dos Céus

Cansei-me do silêncio em pergaminho teu

Os dias enforcados na penumbra maré

Os dias prometidos

Mortos

Todos

Fodidos…

Em marcha a ré

Cansei-me de mim

Cansei-me de ti

Cansei-me deles

E cansei-me deste vadio jardim

Sem Fé

Quando aqueles…

Aqueles bichos alimentando-se do desejo

Se confundem com a madrugada

Assim

Assim nada feito

Fico sem perceber se amo

Fico sem perceber se sou amado

E percebo que amanhã é segunda-feira

Dia de trabalho

Escrever

Dormir

Dar uma volta ao caralho

Não o sei

E nunca o soube

Sei que tenho atrozes

Reumatismo

E quase cinquenta anos

Do dia da despedida

A despedida

Amo-te

Até amanhã

E adeus à Pátria…

Fodi-me

Foderam-me

Sou um poeta enrabado

Sou um poeta cansado

No poema

Do poema

O poema do cansaço.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

domingo, 3 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:42

02
Jan 16

Não serei o teu escravo, o sevo da desilusão, o menino mimado encalhado na solidão, não o serei, meu querido, poeta bandido, homem da corrente de aço, Cacilheiro perdido no Tejo quando a neblina se entranha no chão

Amanhã, meu amor, amanhã haverá madrugada,

No chão, as mortíferas cancelas do sofrimento, amanhã não acordarei para te beijar, os beijos, o jantar… não existem neste corpo, e brincam, e sofrem, e brincam como crianças esfomeadas pelo cansaço da brincadeira, a ténue Primavera, as andorinhas em papel penduradas nos atorges gonzos da memória, sinto-o, a tua presença

Entranhadas no chão, recheadas de amendoeiras em flor, palavras e cor...

No chão, a desgraça manhã confundindo o corpo com o pequeno-almoço, a sinfonia da saudade,

Palavras e cor… momentos desrizes e condomínios encerrados para obras, o pavimento encarnado na saudade, o mesmo corpo de há pouco… esbelto cacifo nas constantes avenidas do madrugar, a cidade em morte, a cidade da morte, não há transeuntes, não há camuflados apeadeiros das manhãs embriagadas pelo sono, a sinfonia da saudade

Não serei o teu escravo, o sevo da desilusão, o menino mimado encalhado na solidão, não o serei, meu querido, poeta bandido, homem da corrente de aço, Cacilheiro perdido no Tejo quando a neblina se entranha no chão, a sinfonia da saudade, o abismo mosquito saboreando a noite recheada de abelhas e estrelas, de estrelas e abelhas, mosquitos apavorados, e corpos comidos por velhos mosquitos, o sono empoleirado sobre o castanheiro da aldeia,

Palavras e cor… momentos desrizes e condomínios encerrados para obras, o pavimento encarnado na saudade, o mesmo corpo de há pouco… esbelto cacifo nas constantes avenidas do madrugar, a cidade em morte, a cidade da morte, não há transeuntes, não há camuflados apeadeiros das manhãs embriagadas pelo sono, a sinfonia da saudade

Da aldeia dos sonâmbulos corpos de cera, a oração sempre na ponta da língua, o insignificante orgasmo literário de mão atadas a um blogue, a noite escura, a escura maldição nos confins do alarmismo, sempre, regressam os candeeiros da alvorada

E corpos comidos por velhos mosquitos, o sono empoleirado sobre o castanheiro da aldeia, o sino da igreja vestido de sentinela, os foguetes, a raiva, e o sofrimento da medusa escuridão dos musseques fotografados pelo olhar,

Os candeeiros da alvorada… mortos… término.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 2 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:37

01
Jan 16

Os dias contados

Como cêntimos embalsamados na mão do cansaço

A triste avenida despida

Descendo a Calçada rumo ao infinito rochedo do medo

O calendário suspenso na parede triste da cozinha

Anunciando palavras em papel

E palavras de papel

Sozinha

A avenida empolgada

Iluminada

Que nem eu consigo encontrar o caminho

Do deserto

 

Incerto

De eu menino…

 

Os dias contados

Como cêntimos de brincar

Na algibeira do desejo

Regressam os lábios

Regressa o beijo

E a avenida perdida

No centro da cidade de vidro

Os dias engolindo versos

E poesia

Procurando um corpo simples

Sem memória

Nem estória… para habitar o meu esqueleto desventrado…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

sexta-feira, 1 de Janeiro de 2016

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:31

Janeiro 2016
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