A noite desesperada
No labirinto da palavra
Todas as flores do teu jardim
Assassinadas pelo coração do poema
Absinto
O mínimo tempo consagrado aos insectos
Que poisam no teu olhar
Imaginávamos o silêncio
Nas treliças da saudade
Sempre em desespero
Neste labirinto de espuma
Camuflada pelas mandibulas do cansaço
O louco sorriso
Nas avenidas do sofrimento
Que absorvem a cidade do medo
O teu corpo disperso na escuridão
Descendo do luar
Até à minha mão
(A noite desesperada
No labirinto da palavra
Todas as flores do teu jardim)
Mortas
Trémulas segurando uma velha esferográfica
Escrevia em ti o sentido lapidar da timidez
Como um rochedo de insónia
Navegando no Oceano
A morte
Vivida a cada segundo de luz
A morte
Vivida a cada milímetro de tristeza
E voava nos teus braços
E voava nas tuas coxas
Até adormecer junto ao mar
A noite
O labirinto da palavra
Despedindo-se das uniformidades da sentença escrita
Morte
Até que as lágrimas se transformavam em flores assassinas
O dia inventado nas pequenas limalhas do desejo
Acordávamos sobre os lívidos secretos da angústia
E terminávamos nos limos do corpo
Desejado
Indesejado
Do corpo
No corpo
Do majorado envenenado
Observávamos as gaivotas construídas no papel pelas mãos do pôr-do-sol
E nada mais tínhamos nas veias
Apenas sangue sofrido
E pedacinhos de areia…
Francisco Luís Fontinha – Alijó
sábado, 13 de Fevereiro de 2016