Simplifico-me nas tuas asas
Deusa do sofrimento
Madrugada em despedida
Quando o corpo cessa de sonhar
E viver
Na esperança perdida…
Sofro
E faço sofrer
A minha mãe querida
Um artista
Camuflado no desejo
Esperando o regresso da paixão
E ela
Não vem
Morre
Como morreu o meu coração
Nas avenidas despidas e incrédulas
E simplifico-me
Nas tuas asas
Minhas esperas…
Sinto o arrepio da morte
Poisado nos meus ombros
A plenitude rebeldia dos teus braços
Entrelaçados no meu pescoço magriço
Frágil corpo nas tuas mãos
Sangrando
O feitiço
Do amor
De amar
Quem me ama?
Seu grande impostor…
O Doutor
Engenheiro
Poeta
E escrivão da corte…
O morto
Vampiro das noites sem sorte
Agora sinto-o
Aprecio-o
E fujo dele…
Ai de mim meu amor indefeso
Cruxificado numa esplanada
Junto ao Tejo
Pois claro
O Tejo
Simplificado
Amargo
O círculo do púbis do amanhecer
Sangrando novamente
Sem o querer…
O viver
A almofada do sentir
Prisioneira do servir
Amargo
Beijo
Da lentidão dos desejos
Coitados
Tão poucos
Os beijos
Amargos…
Francisco Luís Fontinha
domingo, 6 de Março de 2016