Na longitude do amor
Desenho a cabana do sofrimento
A saudade regressa do infinito ausente musseque
Procuro os pequenos charcos da infância na algibeira do tempo
Queria ser gente
Correr
Saltar
Brincar no teu olhar como brincavam as gaivotas sobre o meu cabelo
Habitar nas tuas mãos com que afagas o meu olhar
Sentar-me nos jardins inventados pela escuridão da paixão
A solidão vive
Absorve-me como absorve as tempestades
O silêncio do medo agarrado ao meu corpo sonolento
Os meus ossos ficam colados no espelho dos tristes dias ausentado
Como uma fotografia sem ninguém
Cubro-me pela madrugada em construção
Sonho
Vivo sonhando com papagaios em papel
Imagino-me no parapeito de uma janela gradeada pelas sombras do abismo
O amor morre
Morre como morrem os fantasmas do amanhecer antes de ir para a escola
Sou um marinheiro desempregado
Passo os dias junto ao mar na ânsia que alguém me venha procurar
E novamente saltito nos charcos dos musseques de zinco
O medo
O medo de não regressar nunca
Às palmeiras de cartão
Francisco Luís Fontinha
quinta-feira, 7 de Abril de 2016