O dia desaparece nos alicerces da solidão,
O meu corpo finge não pertencer a este objecto inanimado
Que habita esta casa, ouvem-se os pequenos resíduos do cansaço,
E antes de regressar a chuva, termino o meu desejo.
A paixão quando os olhos navegam sobre as searas conduzidas pelo vento,
E que mais tarde morre junto ao cais do sofrimento,
A dor entranha-se nos ossos da tristeza,
O silêncio alimenta o desassossego da alma…
Que permanece impávido quando lhe toco com a minha mão,
Não importa se a noite traz o prazer do sono,
E se os sonhos são desenhados nos corredores inabitados deste rio sem nome…
Morre o dia.
Libertam-se de mim todos os círculos da geometria
E todas as palavras do alfabeto,
O dia já foi, e não voltará mais ao meu corpo,
Abro a janela, sinto o odor do teu olhar
No sexo da melancolia,
Entre azedumes e poemas…
Camuflados pelo incenso da madrugada,
Odeio o teu corpo como sempre odiei o meu,
Pedaços de farrapos suspensos no estendal embrulhados em cordas de nylon,
Descendo a montanha,
Desço-a enquanto o dia é levado para outros longínquos lugares,
Triângulos de papel que ardem à minha passagem,
E tudo em que toco… arde, ou morre…
Morre o dia. Ergue-se a noite no esplendor do esquecimento, e este circo não cessa de dançar sobre os rochedos do medo,
A doença toma conta de mim,
Fico ausente perante os teus olhos,
Fico ausente quando acorda a noite e se libertam de mim as frágeis tempestades de areia,
O mar imagina-me brincando junto aos barcos de esferovite,
Sem motor,
Espero o vento das aldeias em flor,
E quando me apercebo… estou em pleno Oceano,
Liberto de ti
E das garras do teu corpo,
Morre o dia.
Morre o meu corpo.
Francisco Luís Fontinha
terça-feira, 3 de Maio de 2016