Era forçado pela pressa das coisas. O silêncio imaginário da manhã quando pegavas na minha mão ao desaparecer no meio dos transeuntes da cidade perdida,
Escondia-me das sombras dos aciprestes,
Porque assim, pensava eu, estaria mais protegido das estrelas, mas não estava.
A noite era uma aventura,
Eu preferia ler, e tu, e tu preferias passear, que confesso, que confesso não me apetece nada caminhar apenas por caminhar,
Se ao menos caminhasse em direcção ao Luar… era forçado pela pressa das coisas,
Tens de fazer isto, amanhã tens de fazer aquilo…
Chega. Detesto receber ordens de arbustos e munto menos de ti.
Sou feliz assim, confesso.
Não dou nem recebo ordens,
Sou livre, voo na companhia das gaivotas ao final da tarde junto ao Tejo,
Depois poiso em Belém,
Acorrento-me às amarras invisíveis da maré,
Olho os veleiros em atropelos sem que ninguém lhes valha…
Como a mim,
Nem palavras nem poesia,
Nem os livros me deixam adormecer quando tu, depois de caminhares em círculos, cansada, dormes, eu olho-te e finjo não te ouvir, prefiro ausentar-me na noite, e regressar quando já o dia bate na janela do nosso quarto,
Descerro a lápide do desassossego, não encontro nela o meu nome…
Deixei de pertencer aos humanos visíveis das avenidas laminadas pela escuridão,
Tenho no peito um fantasma, um falso coração que em vez de amar…
Bate, bate sem parar…
E um dia vai parar,
E nesse instante serei o homem mais feliz do Universo,
A minha morte; as coisas cessam, e deixam de ter pressa,
E deixam de ter graça.
E eu, e eu serei apenas eu…
Uma carcaça.
Francisco Luís Fontinha
sábado, 7 de Maio de 2016