imagina que as cidades são estátuas sonâmbulas
sons íngremes voando sobre o mar
que a alma absorve na escuridão
imagina que o amor é a floresta virgem
perdida nas mãos de uma criança
no seu sorriso uma bandeira
sem esperança
imagina que há na saudade um esqueleto de vidro
com cortinados de paixão…
perdido…
agachado no chão ténue do sofrido
imagina… meu amor
imagina as gaivotas poisadas no teu olhar
esperando o meu regresso
sempre
sempre ao madrugar…
imagina…
imagina o meu coração deixado numa loja de penhores
numa tarde de inferno
imagina…
imagina o cansaço da abelha no final do dia
embriagada de pólen
e de barriga vazia…
imagina… meu amor
esta carta sem remetente
esta carta sem destinatário…
imagina
imagina
meu amor
imagina que as cidades são palavras a arder
nos lábios do operário
sempre
meu amor
sempre sem vontade de escrever…
Francisco Luís Fontinha
sábado, 21 de Maio de 2016