todas as noites
entre segundos de espera e minutos de silêncio
o derradeiro sofrimento do relógio de pulso
sem tempo
imenso longínquo abstracto do corpo submerso no vazio
a alma desesperada suspensa num cabide de prata
e nas mãos sangrentas poisa o amor…
todas as noites
ossos em fotografias esquecidas no sótão da saudade
todas as noites
perdido na idade
a palpitação sonolenta do cansaço
quando os astros se sobrepõem aos anéis geométricos do beijo
infinito secreto amar
que deambula nas metáforas da montanha desesperada
pela infinita solidão
o sentir não tocando a tua mão
todas as noites
vagabundas auréolas de açúcar
sobrevoando o teu sorriso…
no pulso
um relógio enlouquecido pela tempestade das palavras
todas as noites
o medo
a palavra da palavra
brincando num caderno de nata…
e todas as noites
a lata
o zinco telhado da casa húmida
no triciclo de chapa…
morre lentamente
sufoca na janela sem vista para o mar
todas as noites
os barcos na algibeira da vaidade
prisioneiros do meu perfume
entre segundos de espera e minutos de silêncio
Francisco Luís Fontinha
sábado, 4 de Junho de 2016