As tuas mãos cansadas
Poisadas no meu rosto agreste
Sentindo o vento imaginário
No meu peito o arado
Semeio as palavras do teu sorriso
E espero pelo regresso…
Das palavras envenenadas
Colho o silêncio verso
Quando o pôr-do-sol acorda sem perguntar
A idade do meu caminheiro…
E no mar
Sou o dono do teu sorriso
Quando invadem a cidade os guerreiros da alvorada
E da calçada
Os rochedos da inocência
Recheados
De alimento
Invento
Invento o beijo argamassado
No destino de criança
Abandonada à nascença…
Os livros que morrem
Sobre as minhas coxas desmedidas e sem sentimentos…
Amanhã nobres ventos
Se vão alicerçar na madrugada
Sem dares conta
Da minha presença
Sem perceberes a minha morada
As tuas mãos cansadas
Os meus dedos entrelaçados no abismo
Que a terra há-de comer
Depois da minha partida
As ruas sem saída
As ruas sem transeuntes enlatados
Pelos carros
Pelas pessoas
E pelos sonâmbulos sem-abrigo
O peso da morte
Quando desce as paredes da montanha proibida
O amigo
Correndo o rio dentro dos calções coloridos
E os teus olhos…
Em mim recolhidos.
Francisco Luís Fontinha
10/12/16