Há sempre uma porta encerrada
Nos fragosos lábios da madrugada
Uma canção desesperada
Ou um poema envenenado pela alvorada…
Sinto o peso do corpo nas lápides do xisto amanhecer
Que uma enxada revoltada consegue levantar
E nas palavras ficam o ser
O ser amaldiçoado do mar
E o amar?
Uma jangada que levita sobre as montanhas de brincar
E só uma criança sabe desenhar
Sobre a fina areia do sonho despertar
Depois o sono que aparece na janela do sofrimento
Como palmadinhas secretas de vento
Contra o meu olhar desonesto e profano
Há sempre uma porta encerrada
Ou um veneno…
Há sempre nos fragosos lábios de incenso
Uma porcelana palavra em lágrimas
Que morrem no livro sagrado
Amado
Desamado…
Alimento-me do teu sorriso leviano
Que numa qualquer página de jornal adormece
E esquece
O significado alterno do amor secreto…
O dia que não morre mais nas minhas mãos de silício
E do silêncio o suicídio anunciado
Uma faca apontada à minha sombra enfeitada de farrapos
Trapos
E velharias tantas… que esqueço o lençol do luar
Nas avenidas nuas desta cidade endiabrada.
Francisco Luís Fontinha
12/03/17