Imagino os teus olhos lacrimejantes nas paisagens do Congo,
Transportavas no corpo as serigrafias do sono…
Que apenas um rio te separava da inocência,
Tinhas na algibeira os cigarros e a fotografia da tua mãe…
Inventavas poemas com palavras esquecidas no capim,
Que o cacimbo apergaminhava na aventura da escuridão,
Lá longe ficava a barcaça imaginária de um dançarino obsoleto,
Sentavas-te nas montanhas da tristeza e rezavas,
Rezavas pela melancolia dos destinos transparentes do olhar de uma serpente,
E nunca percebeste que eu um dia eu te recordaria como um sonâmbulo obscuro,
Que transporta os alicerces de uma cidade em pó…
E em pó te transformaste.
Francisco Luís Fontinha
19/03/17