Deixo o meu corpo poisado na ribeira da solidão,
Suspenso no pesadelo da morte
Caminho pelas montanhas semeando espadas em granito…
E recordava a ruidosa noite dos corpos ensonados,
O cais onde habitavam os meus barcos parece uma cidade sem nome,
Distante da madrugada,
Descendo o rio até ao mar,
As gaivotas envenenadas pelas palavras amargas do teu sorriso,
E envelheci antes do teu regresso,
Vou à janela e sinto o raiar do amanhecer dentro de um livro apodrecido pelo tempo vazio da escuridão,
O amor não dorme mais,
Acorda-se enquanto as minhas mãos apalpam o olhar das tuas pálpebras nas paixões dos comboios entre sucata e pequenas miudezas, a algazarra dos teus gemidos inclinados no sótão dos cigarros inacessíveis nas nocturnas avenidas do desassossego,
Sou um palhaço embalsamado pelos relógios em suicídios soluços, uma arvore recheada de lentidão, a traição do corpo poisado na ribeira da solidão,
Tragam-me o escuro poema com asas em papel, tragam-me a rapidez dos alicerces do vento antes de apodrecerem as pontes imaginárias, e foi-se a idade, deixei de pertencer-te…
Deixei de amar-te.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 15 de Abril de 2017