Recordo o teu olhar
Nas planícies das amoreiras ancoradas
Sinto no peito a alegria de sofrer
Enquanto o mar se despede de mim
Estou só!
Muito só!
As fogueiras da noite
Hipnotizam o suor cansado das madrugadas adormecidas
Os barcos em mim
As cordas em mim
E as âncoras da solidão descem-me pelo corpo bordado pelas tuas mãos…
Muito só!
Estou só!
Regressa a insónia nocturna da boca
Enquanto na taberna ele encharca o melódico corpo em papéis de uísque
E pedacinhos pigmentos de uma caneta envelhecida
Meu querido
Porque partiste?
As palavras em vão
As palavras embriagadas pelo teu sorriso
Navegando no meu peito
Sempre que uma nuvem me abraça,
Sem vertigens…
A voz sonolenta que desencanta a ferrugem dos teus cabelos
Na sombra de um jardim abandonado por ti
Sento-me no teu colo
Imagino o vento nas tuas coxas
Quando se diluem nas escarpas de um poema…
Estou só!
Muito só!
Invento pontes em esparguete para te fazer feliz…
O medo
As algibeiras desterradas nos rochedos da morte
Porque partiste?
Tínhamos tanto para desenhar no teu silêncio
Tínhamos tantos locais para aportarmos…
E partiste…
Estou só!
Muito só!
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 1 de Maio de 2017