Domingo, um abraço chuvoso,
O fogo absorve-te na imensidão do espaço,
Evapora-se nos teus cabelos frescos como a água da ribeira…
Domingo,
Um abraço na carcere do esquecimento,
A flauta suspensa nos teus lábios…
Enquanto em mim permanece acesa a musicalidade da saudade,
Tenho em mim os marinheiros esfomeados do sexo,
E das bebedeiras noites junto ao mar,
A inocência granítica do teu corpo voando na minha mão,
És uma estátua invisível como são invisíveis todas as estátuas,
Olhos cerrados,
Mãos maniatadas,
O uísque em pequenos tragos na melancolia do dia,
As palavras, Domingo, um abraço chuvoso,
A poesia incinerada na tua boca de papel…
Ardem as cidades do sono,
O fogo…
No teu corpo de vidro,
Os barcos amarrotados esperando seus passageiros clandestinos,
Um comandante embriagado…
Prisioneiro de um Domingo chuvoso,
Um abraço,
Até sempre…
No espelho convexo da tua nuvem favorita,
A poesia morre?
Domingo, um abraço, chuvoso,
E o fogo leva-te para as minhas cinzas misturadas na terra húmida…
E toda a sanzala é nossa…
A casa dos encantos.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 25 de Junho de 2017