A casa desocupada e infestada de bichos marinhos,
Os ninhos do meu quintal estão recheados de pergaminhos,
Palavras soltas,
Palavras mortas,
Vivas palavras rompendo a madrugada,
Sem nada,
O infeliz meu corpo deitado na casa desocupada,
Escrevo no chão,
Minha mão estremece a cada sílaba adormecida,
Vomito poesia sobre a janela envidraçada,
E imagino a louca Calçada…
Ajuda, não ajuda,
O eléctrico dorme na minha cama esganiçada,
O comboio para Cais do Sodré engasga-se em Alcântara Mar,
E o sonâmbulo adormecido descarrilha ao passar pela minha sombra,
Uma tragédia, meu amor,
A casa,
Desocupada e infestada,
De livros,
Quadros,
Esqueletos…
E restos de ossos,
Poeira,
Alvorada fora até ao nascer do Sol,
Bebedeira, o esqueleto cambaleia…
Saltita,
E volta a adormecer no meu peito,
Nada me resta,
Nada tenho para te oferecer, meu amor,
A não ser, a não ser… algumas velhas flores,
Pedres,
Envelhecidas como nós.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 28 de Junho de 2017