A casa descalça no sombrio destino da pele camuflada pelo capim da saudade,
O cacimbo poisa docemente no teu sorriso, como uma gaivota de vento enrolada na árvore da solidão,
Foge de mim e abraça-se à liberdade…
Até que a noite se veste de negro…. E no chão
Queimado pelo suor do teu cabelo, levita na imensidão do Universo…
Escrevo-te este pobre verso,
Sem saber se saberás ler,
Ou escrever,
Um tentáculo de papel absorve-te na ribeira da montanha adormecida,
Sinto o levante amante que sou nas tuas lágrimas,
Como uma pedra ressequida…
Do velho xisto exposto ao Sol da manhã embainhada na espada da serpente envenenada pelo silêncio,
E dou-me conta que sou apenas eu neste inferno…
Viver é passar os dias aqui sentado a olhar o mar suicidado numa tarde de Verão,
Viver é passear-me com o teu caderno debaixo do braço esquerdo,
Onde guardo a tua carta de despedida…
E o teu pedido de partir,
E a fuga é uma miragem com vista para o mar…
Assombrado,
Reconheço que da tua ausência nasceu um poema parvo,
Tão parvo que tenho vergonha de o transcrever para o papel…
Encerro docemente o caderno na minha mão e escondo-me de ti.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 11 de Julho de 2017