Vivo exilado neste corpo cansado,
Tenho as rugas do desejo estampadas nas mãos calejadas pela velha e imaginária enxada,
Os socalcos lá longe, dormem profundamente na sombra de um rio,
Navego em ti, minha querida, até que regresse a morte e te leve para longe,
Imagino-me sem ti, um grande desassossego, uma longínqua e inerte sentido de não liberdade,
Perdido na cidade, esquecido na paragem do eléctrico, só, sem ninguém…
Sei que um dia vamos estar todos juntos… mas isso, mas isso é quando?
O rosto cremado na lixeira da paixão,
A sombra enigmática do sorriso ao acordar, distintas portas de saída…
E da rua, o silêncio fumarento dos cigarros envenenados pela tua dor,
Vivo,
Sou um exilado da solidão,
Entre pássaros e as abelhas desgovernadas do teu coração,
E amanhã será um novo dia, de luta, e da pele incinerada do abismo…
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 23 de Agosto de 2017