A chuva. As noites recheadas de literatura, lá fora, pedacinhos de sonhos voando sobre o meu corpo ensonado, a poesia entranhada no silêncio da noite, acorrentadas as mãos ao corrimão da saudade, sempre que possível, uma sombra na minha mão,
A chuva.
Recordo os teus lábios quando te sentavas no meu colo, dentro de mim uma corrente em aço pronta a disparar a bala da cegueira, as palavras embriagadas no teu peito, a chuva, enraizada no teu cabelo, frágil, mórbido, e, sempre que adormeço tenho em mim todos os sonhos, o desenho dos sonhos, a vaidade de nada ter, a não ser, alguns livros, nada mais, alguns livros e a chuva para recordar o teu sorriso.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 25 de Dezembro de 2017