A garganta dilacerada pela imensidão do poema,
Quando os olhos da lua se cerram e dormem,
As cidades invadem os livros,
O projecto nasce na tela branca da solidão,
A água que se mistura no cotovelo das esplanadas de Verão,
E os incêndios nas mãos do poeta,
Uma caneta foge,
Abandona a casa dos espíritos,
Junto ao rio…
Amar-te paras quê? Se as minhas palavras são de aço,
Enferrujam os frágeis dedos de porcelana,
Quando da noite regressa,
E abraças a minha cama,
Lisboa em chamas,
As ruas desertas, os peixes cansados das paredes infestadas de ratos de papel,
A minhoca perfurando a terra, seca, cálida…
O corte das palavras,
A música perplexa nos confins da montanha,
Escrever-te? Amar-te?
Se o cupido morreu no meu olhar,
Numa noite de saudade,
Junto ao rio…
Abraças a minha cama!
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 24 de Fevereiro de 2018