Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Out 18

(…)

 

Nunca soube o que era o amor, acreditava nas gaivotas em papel da minha infância, recordo o triciclo enferrujado, o boneco estúpido que apelidei de “chapelhudo” ..., que parvalhão apelidava o seu fiel amigo de “chapelhudo”, eu, claro,

As palavras misturadas entre orgasmos e flores, gemidos cirílicos suspensos nas andorinhas em flor,

Eu?

Nunca,

O amor,

Poemas escritos debaixo da embriaguez

Freguês?

Nem uma modinha habita na minha algibeira, e o amor sossegado debaixo de uma mangueira, crescia, brincava e...

Nunca,

E embrulhava-se na timidez de um novo dia, e lentamente, os meus ossos alimentados pelos sulcos solitários da noite, a barriga crescia-lhe, é menino? Menina?

Freguês?

Eu, simulador de voo quando as estrelas dormem, e habita na minha algibeira uma película fina de desejo,

O que é o desejo...!

Não

Nunca soube o que era o amor,

Não pai, não pode ser,

A vida é viver, um dia, dois dias, um quarto de dia..., percebes?

VIVER...

E amar?

 

 

(…)

 

Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:19

Teus lábios são amêndoas cansadas nos socalcos do douro,

Dentro de mim habita o cansaço da solidão,

Descendo a calçada,

Perpendicular aos penhascos doirados,

Sobre as minhas pálpebras um camião em transe, molhado pelo cacimbo,

Treme-me a mão que afaga o teu rosto,

Escrevo nas tuas lágrimas de papel amarrotado,

Doente,

Cansado.

Sofro, por ti, sabendo que existe no teu peito a injustiça,

Como todos os livros que leio,

Sofro, por ti, sabendo que em breve a geada te levará para o infinito adeus…

E eu, sem medo de te perder.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 28/10/2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:33

21
Out 18

Amar,

Desenhar no alpendre as verdadeiras palavras, simples, comestíveis nas noites de insónia, o caminho alicerça-se aos seus dedos, ele permanece impávido, incrédulo, com todos os sorrisos das montanhas de sémen,

Não pago, não quero saber da paixão, do amor proibido que só os lençóis de porcelana conseguem desfrutar,

O amor,

O poeta,

As migalhas de Deus descendo a calçada encarnada das escadas para o sótão, trazias no corpo as flores mais belas dos jardins sem nome

O amor,

As janelas fotocópias de mares e marés ensonadas, a carta envenenada sem remetente nos candeeiros do Luar,

“A ponte,

O fumo vadio galgando as minhas roupas como uma aranha sem nome, fios, pedaços de saliva e gotículas de suor, a luz absorvida pelo teu corpo de naftalina, a gaveta do guarda-fato sem nada guardar, esfomeado, húmido, este triste quarto despido dos vidros e dos cortinados, frestas, sombras que um dia se ergueram durante a noite e fugiram...

Regressar?

Partíamos...

Sem perceber o que era a Saudade...”

Onde moras, menino,

Perdi-me sem saber o significado de saudade, Lisboa crucificava-me,

Abrias os braços...

E pensava em ti...

As sombras, e pensava em ti, meu amor, quando adormeciam as imagens lânguidas do sofrimento, o vulcão das tuas coxas,

O regresso?

Nunca

As sombras, o timbre fixo da foz espetada numa caixa de cartão, tinhas nas mãos a safira paixão das noites em flor,

Nunca, nunca conheci a tua pele, era sempre noite em nós, adormecíamos como dos corvos suspensos na putrefacção da insónia, cintilavam os teus seios nas pálpebras do mal-me-quer adocicado, louco

Apaixonado, eu?

O corpo incha como uma orquestra desafinada, os lençóis de linho misturados com os beijos nocturnos do sémen inventado pelos rochedos da memória, hoje há caracóis, sardinhas... os monstros marinhos da tua língua, os teus seios abraçados a uma tela vazia, branca, triste como as ruas da cidade do abismo,

Hoje?

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21/10/2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:42

18
Out 18

Apaixonado, eu?

O corpo incha como uma orquestra desafinada, os lençóis de linho misturados com os beijos nocturnos do sémen inventado pelos rochedos da memória, hoje há caracóis, sardinhas... os monstros marinhos da tua língua, os teus seios abraçados a uma tela vazia, branca, triste como as ruas da cidade do abismo,

Hoje?

O velho caixote em madeira embrulhado com as comestíveis sereias de açúcar, a fotografia sempre extinta no meu olhar, não

Existes?

Talvez...

Mas sonhava, desenhava figuras geométricas nos lençóis da tempestade, sacudia as infames equações do orgasmo, e

Silêncio...

Que roupa vou vestir amanhã, mãe?

Silêncio,

E depois dos desejados sonhos do meu candeeiro

Porque nunca rezei,

Mãe...!

Navegas na morte, habitam em ti as saudades da partida, o regresso sem saída, absorto, infinitesimal adormecido numa lápide de sonho, partimos, chegamos, o frio entranhou-se-nos nos ossos, esquecemos as palavras, e todos os momentos, a loucura imaginária dos vinhedos escrevia nos rochedos... o xisto disfarçado de “Alimento para Cães”, as ruas inúteis, fúteis, onde ”putas e drogados” dormiam para fugirem ao vicio, a emigração dos corações de areia, a sedução, o prazer quando o teu corpo balançava na alegria, o sótão vazio, o telhado encravado nas ombreiras da paixão,

Amo-te, escreve ela todos os dias no espelho embaciado,

Amas-me?

O que é o amor, meu amor...

Palavras, poemas, poetas... & mortos sem cabeça, Amas-me? O que é o amor, meu amor...

Pedra, madeira...ou papel quadriculado,

Oiço

“Foda-se o amor”

E...

 

 

Francisco Luís Fontinha

18/10/2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:34

14
Out 18

A noite passada

Foi um horror…

 

A gata desgastada,

Rasgou todos os meus papéis,

Deitou-se sobre o meu cobertor,

Adormeceu enquanto eu estripava um livro de poesia,

Gemia, ela, como se fosse a tempestade,

Antes de acordar o dia.

 

 

Francisco Luís Fontinha

14/10/2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:06

07
Out 18

Morro.

Sinto o silêncio do vento alicerçado aos meus calcanhares,

Preciso de voar nos teus olhos embriagados pela noite,

Mas, não o faço; alimento-me dos teus lábios lunares.

Morro.

O caixão embebido em pura lã virgem,

As ovelhas silenciadas nas planícies dos teus seios,

A vertigem do pensamento, completamente desalinhado, ferido…

Morro.

365 de cabeça perdida,

Soltam-se os parafusos dos alicerces da minha morada,

E lá longe, a montanha da minha última namorada,

Sinto-a na sombra da velha casa abandonada,

No radio oiço os palhaços vestidos de negro,

E uma janela perdida em lágrimas,

Completamente, só.

Morro.

A paixão são pedaços de vidro pincelados de orvalho,

E hoje, e amanhã, o cansaço dos livros,

O papel queimado,

As lágrimas do desejo quando a fogueira se senta na escuridão,

Louco.

Morro.

E quem ficará com o meu coração?

Um sem-abrigo?

Um lunático cobertor envelhecido?

Morro.

As estátuas sob o tampo invisível de uma pindérica secretária em madeira ceruminosa,

E um barco morre no Tejo.

Também, eu, como ele;

Morro.

Lâmpadas de néon acompanham o meu pobre caixão, até nisso não tive sorte…

Quatro tábuas, frágeis, cuidado,

Com o tempo das armaduras de ferro,

Quero a noite só para mim,

Como os amigos, alguns bons, outros, fingidos, filhos da puta…

E eu morro.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 06/10/2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:41

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