Morro.
Sinto o silêncio do vento alicerçado aos meus calcanhares,
Preciso de voar nos teus olhos embriagados pela noite,
Mas, não o faço; alimento-me dos teus lábios lunares.
Morro.
O caixão embebido em pura lã virgem,
As ovelhas silenciadas nas planícies dos teus seios,
A vertigem do pensamento, completamente desalinhado, ferido…
Morro.
365 de cabeça perdida,
Soltam-se os parafusos dos alicerces da minha morada,
E lá longe, a montanha da minha última namorada,
Sinto-a na sombra da velha casa abandonada,
No radio oiço os palhaços vestidos de negro,
E uma janela perdida em lágrimas,
Completamente, só.
Morro.
A paixão são pedaços de vidro pincelados de orvalho,
E hoje, e amanhã, o cansaço dos livros,
O papel queimado,
As lágrimas do desejo quando a fogueira se senta na escuridão,
Louco.
Morro.
E quem ficará com o meu coração?
Um sem-abrigo?
Um lunático cobertor envelhecido?
Morro.
As estátuas sob o tampo invisível de uma pindérica secretária em madeira ceruminosa,
E um barco morre no Tejo.
Também, eu, como ele;
Morro.
Lâmpadas de néon acompanham o meu pobre caixão, até nisso não tive sorte…
Quatro tábuas, frágeis, cuidado,
Com o tempo das armaduras de ferro,
Quero a noite só para mim,
Como os amigos, alguns bons, outros, fingidos, filhos da puta…
E eu morro.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 06/10/2018