Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Nov 18

Podia desenhar-te o Céu.

A vida é um suspiro, a casa vazia, triste e a tremer de frio…, o cansaço do amanhecer perdeu-se no teu olhar, respiras, sofres por mim, e não o queres demonstrar.

Sabes, tenho medo dos pássaros, que deixem de voar, que fiquem estonteantes, como eu, ao ver-te aí deitada, tenho medo da madrugada, porque amanhã não sei se vou ler nos teus olhos a palavra amo-te…

E é tão triste, e é tão belo, todo este silêncio que nos abraça.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Novembro de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:48

18
Nov 18

Meu amor, hoje pertenço-te, absorves-me, alimentas-te das minhas palavras esquecidas num qualquer engate, é tarde, meu amor, a noite rebenta no meu peito, sinto o peso das estrelas nas minhas pálpebras inacabadas, o pintor adormeceu sobre o seu próprio corpo, é inerte, invisível na paleta das cores diluídas na alma, a morte, meu querido, o fantasma clandestino do abismo descendo a Calçada, e ao fundo

- O rio reflectido nos teus lábios, meu amor, a vaidade da folha de papel esquecida sobre a pobre secretária de pinho, o caruncho, a ferrugem das ardósias iluminando a noite,

E ao fundo, os barcos adolescentes brincando na sonolência da inocência,

- Tenho medo, meu amor, alicerças-te ao meu cansaço, o Francisco partiu hoje para o desconhecido, sabes, meu amor, gostava dele, amava-o… e amo-o, e tenho medo, meu amor, dos pássaros que voam, das flores que choram, das abelhas que incendeiam a manhã dos silêncios de Oiro, sabes, meu amor, tenho medo

- De ti, de mim, de estar vivo inventando a vida em quadriculados poemas, mais nada, meu amor, mais nada, apenas o medo, a alegria de amar-te, sem saber que o amor habita neste caixão de enxofre,

Oxalá

- As portas, os tristes alicates da escuridão vestidos de mendicidade, a tua boca na minha, o beijo, a orgia matinal da poesia, gemes

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii,

E nada quer de mim o que tu desejas…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:19

12
Nov 18

46027152_2501526406531477_6525291800758845440_n.jp

Participação de Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:29

11
Nov 18

(…)

 

Os sete orgasmos do Mussulo, a liberdade sobre as palmeiras invisíveis que me atormentavam, como campânulas de sofrimento, ao deitar, o caixão que dançava deixou de o fazer, dificuldades com o cachê, dispensa de artistas e cadáveres de cera, um altar recheado de almas, tantas almas como os versos do sem-abrigo quando sentado numa cadeira apodrecida de um circo ambulante,

Quero ser artista, mãe!

Nem penses..., nem... penses...

Filho meu não é artista!

Nunca,

Nunca, mãe?

Os sete, juntos, e sós, no Mussulo era mais barato, a saia descaída, o soutien desenhado no peito

E...

Nunca, mãe?

Nunca,

Nunca

No peito uma flecha de sémen rodopiando no gelo do ringue de patinagem... o belo, a dança... e o corpo em pequenas rotações...

Os teus lábios acorrentados aos meus beijos embriagados pelo desejo, não o sinto, o vulcão da tua pele, não vejo o sorriso da tua mão, em vulcão, mergulhada nas palavras que o silêncio desenha na melancolia,

É falso,

O dia disfarçado de lápide, os outros destinos rejeitados pelo cacimbo, há uma fogueira no corpo da sinfonia do amor,

É falso,

O falso prazer, a liberdade to TEXAS e Cais do Sodré gingavam na penumbra salgada do abismo,

O querido, dança?

 

 

(…)

 

 

Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:32

04
Nov 18

Uma caneta de espuma dispara contra mim a bala da saudade.

Traz dentro de si o amor das noites mórbidas,

Que habitam nesta velha cidade.

Embrulho-me no papel amarrotado pelo sonho, escrevo-me como se fosse o último banho antes de partir,

Entrelaço as mãos, e voo em direcção à tempestade,

Sento-me no teu colo,

Pego no teu cabelo sombrio, cor de noite, como as serpentes da minha vida, cansadas de envelhecer em mim…

Sei que os teus beijos são porcelana de açúcar, rosas mortas no jardim da solidão,

Como os teus olhos, negros da saudade envelhecida dos relógios engasgados pelo luar…

Habitas-me,

Habitas-me enquanto eu respirar, e aos poucos, sinto-me deslizar montanha abaixo…

E escondo-me no rio da morte.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 4 de Novembro de 2018

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:10

03
Nov 18

(…)

 

Não, não amanhã, amanhã vou à cidade, deixar o meu cadáver para ser enviado para a Metrópole, uma ardósia no peito, 123768979/66,

Só isso, pai?

Só isso, quando chegamos, nada tínhamos, apenas um caixote de nada, um rio nas veias... e tu

O mar, pai?

Morreu, disseram-me.…, não percebi, morte!!!!!

O que é a morte, pai?

Voar, 123768979/66... em combate, o silêncio do Grafanil, os sorrisos das mangueiras nos meus lábios,

E...

Pai?

Sim, filho, Margarida reaparece da escuridão, tinha como hábito brincar na areia branca da praia dos sonhos,

Mãe, o pai?

Ficção, tudo isto, nada, a dor, acordava de madrugada a gritar por granadas, G3 e literatura, literatura, mãe?

Poesia, textos, trazia na algibeira da farda...

Farda, mãe?

Poesia, textos, trazia na algibeira da farda... toda a sua estória, as canções de menino, os primeiros beijos,

Margarida?

Sim António...

 

(…)

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:08

01
Nov 18

(…)

 

A fome dentro de um subscrito, lembrava-se das tardes de infância inventando barcos em esferovite e sonhos, ele

As palavras?

Ele sorria, percebia-se no seu rosto o esqueleto e a alma da alegria, e, no entanto, morreu...

E nunca, e nunca mais conversou comigo...

António... António amava-o...

Não sei, António, não sei

Regressar, porquê?

Hoje acordei cedo, Margarida embrulhada nos lençóis do Pôr-do-Sol, e lá longe

Cintilações dos minguados beijos nos teus lábios, os seios de cera desenhados nas eternas mesas-de-cabeceira

Louco, ele?

E lá longe, murmúrios e incorrigíveis uísques brincando dentro de um livro, Margarida

Amor?

Amar...

Os homens tinham regressado da faina, olhava-me um barco, tive medo, confesso,

Eu confesso

Tu confessas

Ele confessa,

E confesso que fiquei perplexo, tão triste, tão triste como as flores de Inverno,

A faina, peixe... nenhum, nada, nada ao quadrado vezes seis a raiz quadrada de mil novecentos e sessenta e seis, o pequeno-almoço, as torradas,

Para ninguém, devolvida

Endereço desconhecido,

Ele confessa,

Um galão, escuro,

António?

Sim, amor,

Hoje,

Hoje o quê, meu amor?

Hoje não vou escrever palavras de chocolate...

 

 

(…)

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:27

Novembro 2018
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

13
14
15
16
17

19
20
21
22
23

25
26
27
28
29
30


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO