Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

10
Abr 19

Suspensa nos teus lábios, a fotografia do amanhecer.

Chove no meu corpo,

Piso o deserto da saudade,

Enquanto a serpente do teu cabelo rasteja no meu olhar,

É noite, meu amor.

Suspensa nos teus lábios, a inocência da infância,

As correntes marítimas dos oceanos embriagados,

Vai,

Não regresses mais, tempestade oncológica das tardes perdidas…

Até que o vento te leve,

Para longe,

Em pequenas lâminas de aço,

Pobre.

Rico.

Sem-abrigo, é tudo o que eu sou…

Meia dúzia de ovos, um café e uma torrada,

Ao final da tarde.

Mendigo.

Perigo.

Suspensa, em ti, as palavras minhas,

Desajeitadas,

Sem nexo,

O beijo da serpente.

Abro a janela da paixão,

Finalmente há amanhecer,

Porque a tua fotografia,

Pertence aos teus lábios.

Estou alegre.

Apaixonado pelos socalcos da geada…

Mendigo.

Perigo.

Aventuras, telegramas sem remetente…

Nos braços,

O ausente,

Da morte,

Que há-de regressar ao teu peito.

 

A cidade, toda a cidade arde,

Nos teus seios,

O jardim dos gladíolos…

 

Sem nexo.

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

10/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:14

09
Abr 19

Desenho o círculo, o quadrado e o triângulo, nos teus lábios de papel quadriculado,

Escrevo-te enquanto brincas na chuva, como uma criança mimada,

Tenho pena dos jardins e das flores,

Quando me sinto abandonado,

Pela tempestade, quando acorda a madrugada,

Na sanzala dos amores.

Leio-te.

Todas as palavras escritas no teu corpo de cerâmica, e na tua pele, o perfume do silêncio amargurado,

Leio-te, como se fosses um livro de poesia,

Quando o poeta está triste,

Com heresia,

Na chuvinha que não resiste,

Ao beijo da alvorada.

Sinto a paixão das palavras no meu corpo cansado.

Desenho o círculo, o quadrado e o triângulo, nos teus lábios de papel quadriculado,

Percorro socalcos,

Pego no xisto,

Sei que existo,

Porque dos teus lábios, brotam a neblina da loucura,

Na cidade, encontro-me encurralado,

Como uma arma de fogo, uma navalha… apontada ao Sol,

E, no entanto, gosto das nuvens de algodão.

Tenho na mão o fogo do amor,

As luvas da paixão,

Tenho na mão a dor,

Quando a espada se entranha no chão.

O círculo,

O quadrado,

O triângulo…

Todos.

Apaixonados.

Todos.

Cansados.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

09/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:48

08
Abr 19

Parem todos os imbecis.

Parem todos os ignorantes,

Energúmenos e os ausentes.

Parem todos os automóveis,

Parem todos os loucos,

Parasitas e poucos.

Parem todas as campainhas,

A minha,

A do vizinho.

Parem a Terra,

O silêncio,

E as mulheres belas.

Parem o trânsito,

As ruelas,

Ruas,

Cadelas.

Parem as putas,

Os putos…

E as naus encarceradas nas tuas mamas.

Parem.

Por favor, parem.

Parem as flores,

Os jardins,

Os amores.

Parem.

(Parem todos os imbecis.

Parem todos os ignorantes,

Energúmenos e os ausentes).

Parem os chulos,

Prostitutos,

Afins…

Parem tudo. Dói-me a cabeça.

 

Parem.

 

E, respeitem os ciganos!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

08/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:59

07
Abr 19

O chão semeado de sombras,

Dentro de mim, o mar,

Descalço,

A convidar-me para brincar.

O cheiro da terra húmida,

As palmeiras envenenadas pelo silêncio,

Quando as gaivotas de Luanda, dormem na Baía…

Oiço-as.

O chão semeado de sombras,

O capim molhado com cheiro a sonho,

Sobre a terra,

Os barcos de papel da infância.

O som dos transeuntes mabecos perto da sanzala,

As crianças brincando com a tarde salgada,

Que um velho sábio trouxe do mar.

Abraço-me às mangueiras, deito-me no chão semeado de sombras,

Sonho com uma Lisboa desconhecida, onde se passeiam putas e bêbados…

Pelas avenidas escurecidas.

E, no entanto, ainda hoje, desenho no teu corpo, gaivotas.

Uma Lisboa embrulhada em cheiros e sabores,

As tasquinhas, nas paredes, o peixe frito com sabor a cebola,

O vinho misturado com a água salgada,

E as pipas parecem esconderijos de marinheiros.

As gaivotas, meu amor,

As gaivotas que desenhei nos teus seios,

Dos incêndios da minha infância…

Alucinações,

Eu, eu brincando com as galinhas da minha avó,

De calções,

Sandálias…

E sonhos.

 

E hoje, sou apenas um velho esperando a morte.

 

 

Querida Lisboa,

 

Dos enfartes que as guloseimas de uma criança, deixa sobre a terra,

 

Querida Luanda; as gaivotas dos teus braços.

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

07/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:54

06
Abr 19

Vou assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado.

Vou assassinar o teu corpo, apenas o teu corpo,

E fugir para a Lua,

Vou beijar os teus lábios,

Antes de assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E deitar-me nas tuas cinzas,

Eu, cremado,

Como os meus livros,

Como o meu corpo…

Incinerado.

Vou queimar os teus seios,

Antes de escrever neles, amo-te,

Vou assassinar todos os meus livros,

Quando começar a madrugada.

Quando eu morrer,

E, os meus livros,

E, o teu corpo,

Vou,

Talvez,

Ser feliz.

Como os meus livros,

Como o teu corpo,

Como o meu corpo.

Vou assassinar todos os meus livros,

Dar-me como culpado,

E durante a noite, enquanto as estrelas dormem, ser incinerado…

Como a vida é complexa…

 

Como o teu corpo, suspenso no teu olhar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

06/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:41

05
Abr 19

Das lágrimas do mar de rosas,

Nasceram os teus olhos de Primavera.

Dançam as andorinhas sobre a poeira tarde,

Como palavras brincando com o vento.

Das lágrimas do mar de rosas,

Obtenho o silêncio dos teus lábios,

Tão belos, no chão desenhados,

Na eira brinco com o papagaio de papel,

Corro, corro, corro sem parar,

E abraçar,

O teu corpo,

De silício.

Grito pelo mar,

Sempre ausente de mim,

Eu que vivi,

Sobre o mar,

Sobre o vento,

E hoje, pareço um transatlântico traumatizado pelas ondas melódicas da noite,

O profano,

O homem da paixão,

Que por engano,

Que por medo,

Diz não,

Diz não.

Das lágrimas do mar de rosas,

Nasceram os teus olhos de Primavera.

Pego na tua mão de porcelana,

Acaricio o teu rosto de cristal,

E no final da tarde,

À hora do lanche,

Ofereço-te um beijo,

Sem perceber,

Que habita em mim o Oceano teu desejo,

São os livros, meu amor,

São os livros que que alimentam a paixão.

 

Morre-se de quê?

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

05/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:05

04
Abr 19

Os teus olhos são o mais belo livro de poesia,

Uma canção,

Uma melodia.

Os teus olhos são a escuridão,

Nocturna das almas perdidas,

As palavras prometidas.

Os teus olhos são a mais bela pintura, do teu corpo,

Nua…

Na despedida.

Os teus olhos são a geada,

A cidade endiabrada,

Quando me olhas debaixo do luar,

E, ao longe, sei que habita o mar,

E o jardim das flores apaixonadas.

Os teus olhos, meu amor, são as tardes de brincadeira,

O baloiço de uma criança,

Quando desce a ribeira,

E o meu olhar te alcança.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

04/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:47

03
Abr 19

Enquanto ela dormia,

Sob as nuvens de iodo,

O poeta desenhava palavras nos seios da serpente.

Era noite,

Tinha sobre a secretária, todas as cartas recebidas e não respondidas…

O espelho pertencia-lhe, e, via o seu corpo embrulhado nos meus braços.

Naquele momento, nada queria ver,

Nem o mar,

Nem o carteiro que todos os dias me trazias as cartas…

Apenas queria acariciar-lhe os lábios,

Desenhar-lhe nas coxas a cidade efervescente dos dias de loucura,

E mesmo assim,

Quando abria os olhos,

Dizia-me que eu era o mar.

Talvez,

Porque hoje percebo as dores nas costas,

O peso dos petroleiros,

Veleiros,

E outros…

Começava a tremer de frio,

Era Verão,

Mas tinha sempre frio…

Tremiam-me as mãos de cerâmica que o meu pai comprou em Luanda,

Às vezes, poucas, transportava no meu peito o sofrimento,

A dor,

Os vómitos,

A ressaca das noites sem dormir,

E, ela, deitada nos meus cabelos.

Enquanto ela dormia,

Eu, eu sentia,

Não vivia…

E sabia…

Que um dia queimaria todas as cartas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

03/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

02
Abr 19

Borboletas no meu velório,

Apenas borboletas,

Ninguém,

Ninguém à minha espera,

Comigo, morreram as palavras,

Todos os livros, machos e fêmeas,

Segunda-feira ou Terça-feira?

O xisto amarfanhado pelo silêncio da poesia,

As frases afundaram-se nas tuas mãos,

Como gaivotas em cio.

O poço,

O cheiro nauseabundo dos velhos livros,

Abraçados a mim,

Tenho um corpo de merda,

E uma rua dentro de mim, sem nome, sem casa, sem nada…

Dormir,

Não durmo,

Comer…

Não como nada.

Peço aos amigos, a todos, paciência,

Nada mais do que isso,

Nem flores,

Odeio flores e odeio o teu sorriso,

Odeio o mar e o todos os rios…

São recheados de falsidade,

Como tu, pobre pomba poisada no meu ombro,

Dormir,

Não durmo,

Comer…

Quase nada.

Borboletas em papel,

Sombras em pastel,

Telas esbranquiçadas com lábios de suor…

É esta a minha vida,

Embrulhado em palavras,

Dormindo,

Não dormindo,

Dentro das sílabas assassinadas.

Despeço-me, e do cimo do monte…

Enterro o teu nome,

Escrevo na terra…

Amo-te, não te amo, amo-te… só quando nascer a noite.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

02/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:24

01
Abr 19

Tenho palavras na algibeira,

São tantas,

Que parecem os peixes voando debaixo do mar,

Por medo,

Por vergonha,

Estas palavras, as minhas palavras,

Nunca chegarão a ti,

Como a chuva invisível,

Que cai sobre o teu cabelo,

E, ele, sempre seco,

Esbelto como as estrelas.

Estas palavras adivinham, morte,

Tempestades,

E tormentas…

Que só o meu veleiro sabe desbravar,

Como uma floresta doente,

Como os pássaros, também eles, recheados de palavras…

Mas…

São palavras que nunca te vou escrever,

Podia dizer-te que és um amor,

Um bombom,

Ou o luar quando a noite se vai banhar no Oceano…

 

Tenho palavras na algibeira…

Que não me servem de nada,

De palavras está a cidade infestada,

Como ratos,

Sem-abrigo,

Ou eu, um falido comerciante de palavras.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

01/04/2019

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:43

Abril 2019
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9



29
30


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO