A morte.
A tempestade dos cadáveres poéticos,
Quando do espelho, ao anoitecer, a mão do poeta sufoca o próprio poeta.
O comboio alimenta a morte,
O poema,
O texto.
O corpo do poeta evapora-se nos lábios de uma rosa,
Voa,
E chora ao anoitecer.
A morte.
A fragrância das palavras deitadas sobre a mesa,
Um candeeiro a petróleo vomita lágrimas de luz,
Escrevo,
Apago o que anteriormente escrevi,
Porque não faz sentido,
Porque a morte é parva, estúpida e ignorante…
A faca,
O pescoço alicerçado à lâmina,
O frio do aço que escorrega debaixo das mangueiras,
E nos braços, junto aos pulsos, a cratera do desespero,
Sem perceber o significado do sonho!
As nuvens suspensas na madrugada,
De hoje,
De ontem…
E de amanhã.
A morte,
A sagrada morte num corpo sofrido, silenciado pela sombra…
Nos teus braços.
Adormecer.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
03/05/2019