Não sei o que te dizer, meu amor. As esplanadas estão recheadas de vampiros, vestidos de branco, ao longe sinto o vapor da saudade, vem em minha direcção, como um foguete, no Verão, nas festas de aldeia.
Não, não sei o que te dizer, meu amor. Apenas que está frio, que todos os meus livros, que são muitos, resolveram apedrejarem-me, por tudo ou por nada, eu não fiz nada;
As serpentes, meu filho.
Não o sei, mãe. Nunca soube porque foste embora, como a Primavera, quando parte e nada diz às andorinhas que vai partir.
As serpentes, meu filho…
Que têm as serpentes, mãe?
O vento trouxe a morte, depois o vento trouxe a solidão, dos dias, das noites, das madrugadas sem dormir…
E tu, sorridente para mim; pareces feliz!
Eu não percebo porque o vento é assim,
Assim, como, meu filho?
Assim, triste, furioso, malandro, quando corre para mim, e sei que foi ele que te levou para longe, para junto das montanhas, o amanhecer é sempre triste, como todas as manhãs ao acordar, percebes?
Não, não percebo.
E depois regressa a cegueira dos homens, também eles, como os vampiros, vestidos de branco. Vem de lá o orgasmo da saudade, traz dentro dele a tristeza da poesia envenenada pelo Cacimbo, o capim esconde-se no meu peito, um papagaio em papel, construído por ti, valentemente me abraça; acredita, mãe, não é fácil abraçarem-me, principalmente durante a noite, tenho medo das sombras do teu sorriso, quando reparo no pavimento as tuas lágrimas de despedida, como hoje, como ontem, a alvorada engana-se nas horas, acorda, acorda-me e morre, como tu.
E morre como tu.
Francisco Luís Fontinha – Alijó
25/12/2019