Há de haver na minha mão
O verbo morrer
Há de haver no meu cansaço
Palavras para escrever…
Vogais de uma canção
Que procuram lábios de abraço,
Há de haver
Um poema em construção,
Na minha mão
Há de haver uma nuvem a correr
Entre os sonhos de sonhar
E a vontade de haver…
Lágrimas de chorar,
Há de haver na minha mão
Um sorriso pregado no espelho de um olhar
Uma janela virada para o mar,
Há de haver uma mulher para amar…
Há de haver noite sem escuridão
E lençóis suspensos no luar,
Há de haver
Uma sílaba pendurada num papagaio de papel
E que se esconde no púbis da madrugada,
Há de haver uma vida para viver
Nas pedras da uma calçada…
Há de haver uma manhã pincelada de mel
Na garganta do amanhecer,
Há de haver
(e se deus quiser)
Um rio dentro de mim a crescer.