Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Nov 11

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

 

Tu és uma pétala de rosa e eu sou a madrugada,

- Vermelha, sou uma pétala de rosa vermelha,

Sim querida Tu és uma pétala de rosa vermelha e eu sou a madruga pendurada numa palmeira junto ao rio,

- Porque queres ser a Madrugada? Podias ser a noite que desce lentamente sobre a minha pétala de rosa vermelha,

Podia Pergunto-me?

- Claro que sim Parvalhão,

E imagino a noite escura a caminhar sobre a claraboia do sono dela e desço, e lentamente começo a descer até poisar na pétala de rosa vermelha agarrada ao caule dos lençóis, e imagino, eu a noite escura misturada com o vermelho dela,

E quando toco no caule, zás, um espinho, e eu que sou a noite embrulhado nas lágrimas do sangue vermelho, e deixo de ver a pétala de rosa vermelha,

- Não sentes o perfume da minha pétala de rosa vermelha? E eu que sou a noite não tenho visão não tenho olfato não tenho nada… apenas sou um silêncio pintado de negro,

Não, não sinto o teu perfume de pétala de rosa vermelha,

- Claro que sim Parvalhão,

E claro que não, e a noite, eu que sou a noite deixo um beijo na pétala de rosa vermelha e começo a subir, quando passo pela claraboia do sono dela encolho-me, Ai, e passei e subi, subi até o negro acordar e a noite deixar de ser noite,

E eu deixar de ser eu,

Podia Pergunto-me?

Podia, podia ser a madrugada,

Mas a pétala de rosa vermelha quer que eu seja a noite,

Um silêncio pintado de negro…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:08

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