(desenho de Luís Fontinha/MiLove)
Tu és uma pétala de rosa e eu sou a madrugada,
- Vermelha, sou uma pétala de rosa vermelha,
Sim querida Tu és uma pétala de rosa vermelha e eu sou a madruga pendurada numa palmeira junto ao rio,
- Porque queres ser a Madrugada? Podias ser a noite que desce lentamente sobre a minha pétala de rosa vermelha,
Podia Pergunto-me?
- Claro que sim Parvalhão,
E imagino a noite escura a caminhar sobre a claraboia do sono dela e desço, e lentamente começo a descer até poisar na pétala de rosa vermelha agarrada ao caule dos lençóis, e imagino, eu a noite escura misturada com o vermelho dela,
E quando toco no caule, zás, um espinho, e eu que sou a noite embrulhado nas lágrimas do sangue vermelho, e deixo de ver a pétala de rosa vermelha,
- Não sentes o perfume da minha pétala de rosa vermelha? E eu que sou a noite não tenho visão não tenho olfato não tenho nada… apenas sou um silêncio pintado de negro,
Não, não sinto o teu perfume de pétala de rosa vermelha,
- Claro que sim Parvalhão,
E claro que não, e a noite, eu que sou a noite deixo um beijo na pétala de rosa vermelha e começo a subir, quando passo pela claraboia do sono dela encolho-me, Ai, e passei e subi, subi até o negro acordar e a noite deixar de ser noite,
E eu deixar de ser eu,
Podia Pergunto-me?
Podia, podia ser a madrugada,
Mas a pétala de rosa vermelha quer que eu seja a noite,
Um silêncio pintado de negro…
(texto de ficção)