Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

04
Nov 11

Hoje acordei e apetecia-me algo, algo de muito especial, mas nem eu nem ele sabíamos do que se tratava,

E eu sou um banana porque é ele que tudo decide,

- Tu só escreves, e se não fosse eu? Desgraçado… morrias de fome,

E ele tem razão porque ultimamente perdi completamente a vontade de caminhar, porque ultimamente perdi completamente a vontade de lutar,

- Porque tu vives num mundo só teu oiço-o muitas vezes antes de adormecer,

E antes que os meus leitores julguem ou pensem que se trata de um amante, não, é que dentro do meu corpo vivem dois homens,

- Não percebi?,

Tu gostas de matemática, física, e tudo que diga respeito às ciências,

- Pois talvez tenhas razão mas isso não me tem servido de nada,

E eu gosto de literatura, e eu gosto de escrever e desenhar, e eu gosto de poesia,

- E isso serve-te para quê?

Sim tens razão e tal como tu não me serve de nada,

- Se o nosso pai tivesse feito uma bola de queijo…

E eu tenho de encontrar urgentemente um corpo para este gajo que não me deixa em paz, quero dormir e o parvalhão fica a ler até às tantas da madrugada, estou a fazer contas e sinto o parvalhão com a esferográfica na mão, coça a cabeça… e começam a sair porcarias, umas com rima, outras sem rima, mas sempre coisas sem nexo,

- Que queres? Nasci assim,

Depois tenho de lhe aturar as paixões,

- Não existem paixões,

Parvalhão,

Estou a fazer contas e o parvalhão começa a desenhar nos espaços em branco da folha de papel rostos de mulheres,

- Riscos,

Mulheres e flores e barcos e pássaros,

- Sou assim o que queres,

Preciso urgentemente de um corpo para este imbecil, urgente, muito urgente,

E antes que os meus leitores julguem ou pensem que se trata de um amante, não, é que dentro do meu corpo vivem dois homens,

- Eu sou o Francisco, escrevo, leio, desenho e sou apaixonado por tudo que é belo e não belo,

Eu sou o Luís, não faço nada e neste momento sou um inútil…

(queriam-me casado, fútil quotidiano e tributável?) “Álvaro de Campos”

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:23

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