Olho no espelho o meu rosto amargo
E tenho medo à minha imagem reflectida,
Sou perseguido pelas sombras da noite
Quando o meu quarto entra em transe
E vai esconder-se dentro do guarda-fatos minúsculo.
Se eu pudesse também me escondia
E ao lado da noite construía…
Nada.
Que posso eu construir
Quando na minha mão habita a miséria
E no meu cérebro vivem palavras que ninguém,
Ninguém, que ninguém compreende e critica,
Pensam que estou louco,
Doente,
Eu doente?
A minha doença chama-me fome…
Não aquela fome que o estômago compreende,
A minha doença chama-se fome de sofrer.
Olho no espelho o meu rosto amargo
E tenho medo à minha imagem reflectida;
E serei eu o que aparece no espelho?
E se eu for uma abelha
E o que aparece no espelho uma sombra?
E se a sombra for uma abelha
E eu o espelho onde habita o meu rosto?
E se abelha deixar de ter asas
E no meu rosto nascerem gaivotas?
Olho no espelho o meu rosto amargo
E percebo que hoje é um péssimo dia
Para adormecer…
Porque hoje o meu rosto não voa
Nas asas da abelha…
Luís Fontinha
24 de Março de 2011
Alijó