Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Mar 11

Olho no espelho o meu rosto amargo

E tenho medo à minha imagem reflectida,

Sou perseguido pelas sombras da noite

Quando o meu quarto entra em transe

 

E vai esconder-se dentro do guarda-fatos minúsculo.

Se eu pudesse também me escondia

E ao lado da noite construía…

Nada.

 

Que posso eu construir

Quando na minha mão habita a miséria

E no meu cérebro vivem palavras que ninguém,

Ninguém, que ninguém compreende e critica,

 

Pensam que estou louco,

Doente,

Eu doente?

A minha doença chama-me fome…

 

Não aquela fome que o estômago compreende,

A minha doença chama-se fome de sofrer.

Olho no espelho o meu rosto amargo

E tenho medo à minha imagem reflectida;

 

E serei eu o que aparece no espelho?

E se eu for uma abelha

E o que aparece no espelho uma sombra?

E se a sombra for uma abelha

 

E eu o espelho onde habita o meu rosto?

E se abelha deixar de ter asas

E no meu rosto nascerem gaivotas?

Olho no espelho o meu rosto amargo

 

E percebo que hoje é um péssimo dia

Para adormecer…

Porque hoje o meu rosto não voa

Nas asas da abelha…

 

 

Luís Fontinha

24 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:21

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