Junto ao poço ele sentado, junto ao poço eu olhava as estrelas e pedia-lhes que me ajudassem,
- estrelas, ajudai-me nesta caminhada,
E as estrelas de ouvidos tapados às minhas preces, queriam lá saber as estrelas das minhas preocupações,
- eu alimentava o cigarro com os pulmões sem fôlego, e o meu cão impaciente porque está a chover, e o meu cão não chuva, e eu não chuva, e o cigarro em diálogos com os meus lábios, e na minha boca acordava o silêncio, faltava-me a voz, eu sem voz, e o meu cão plenamente satisfeito, eu pendurado nas preces às estrelas, e as estrelas,
E as estrelas sorriam das minhas desgraças, e as estrelas contentes por mim, e o cigarro pedia-me que eu lhe mostrasse as estrelas, e eu não estrelas,
- estrelas, ajudai-me nesta caminhada.
Eu junto ao poço, eu misturado nos sons de Léo Delibes, junto ao poço eu olhava as estrelas e pedia-lhes que me ajudassem, e das estrelas vinha até mim a escuridão, o cansaço de estar acordado, e o cigarro a ficar sem fôlego, e na minha mão não estrelas, e eu pensava juntamente com fumo que se dissipava na noite,
- as estrelas não me ajudam, porquê?
Gosto desta voz que junto ao poço alimenta os meus ouvidos, gosto do fumo do meu cigarro que acaba de adormecer, gosto do meu cão que não gosta de chuva, e eu não chuva, eu à espera das estrelas, e as estrelas direccionavam o olhar para outro poço, para outro cão, para outro quintal, não o meu quintal pequenino e perdido na avenida, as estrelas indiferentes às minhas preces, e eu,
- eu alimentava o cigarro com os pulmões sem fôlego, eu feliz porque tinha junto a mim o meu cão, o poço e os sons de Léo Delibes…
Já não quero saber das estrelas.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
25 de Março de 2011
Alijó