Do silêncio amargo da tarde
Voos de gaivota poisam nos meus olhos
E trazem-me o mar
Do silêncio amargo
A pluma de um relógio
Que corre sobre a sombra de uma cabeleira postiça
O travesti sorri
E atravessa desequilibradamente as janelas do rio
O comboio para Cascais encalhado em Cais de Sodré
E o trasvesti sorri
No silêncio amargo da tarde
Como um parvo
Igual a mim
Que olha pelas janelas do rio
E sorri
No silêncio amargo da tarde
O travesti e eu e a tarde…
E trazem-me o mar
E trazem-me o mar
Voos de gaivota poisam nos meus olhos
E que difícil olhar o rio quando o rio dorme
Enrolado nos lençóis emagrecidos da madrugada
E o travesti encosta-se às janelas do rio
Onde eu fumo cigarros desordenadamente
E o comboio começa a crescer e desaparece em Cais de Sodré.