A bicha bolorenta da tarde
Passeia sobre os nardos da noite
Debaixo do braço um livro de poesia
A noite come todos os poemas
E a poesia morre na garganta do desejo
Evaporo-me
Transformo-me no livro de poesia
Páginas e páginas e páginas em branco
Poemas ocos
Palavras cansadas de caminhar na relva
Onde o corpo da bicha bolarenta dorme
E sonha
Evaporo-me
Dentro do desejo da garganta
E os poemas ocos comem-me
Evaporo-me
A noite come os poemas
E os poemas comem-me…
Saboreiam-me nas sílabas
E o sumo das minhas palavras
Alimentam a bicha bolorenta da tarde
Percebo que não sou nada
Não trabalho
E sou feliz dentro da bicha bolorenta da tarde…
Um livro de poemas vazio
Meia dúzia de telas encarnadas
Penduradas na janela virada para o invisível
E as escadas descem
E o meu corpo feliz dentro da bicha bolorenta da tarde
Evapora-se.