Hoje um péssimo dia. Palmilhei as ruas pedinchando e nada, nem uma moedinha, nem um cigarrinho, nada, nem um pratinho de sopa. Hoje péssimo dia. Há dias assim.
Dói-me o estômago, e a fome toma conta dos meus braços, sinto-me levemente nas ruas da cidade, e começo a ficar desprovido de peso, a roupa dança-me no corpo a valsa da fraqueza e os sapatos parecem pertencer a um defunto esquecido num banco de jardim.
Dói-me o estômago e hoje apenas me alimentei de um texto de Luiz Pacheco, o gajo é maluco, mas é melhor que nada, e percebo porque há pouco enquanto defecava pela calçada começaram a correr palavras do Libertino e das Cartas ao Léu, mas se a comida é pouca a defecação também não poderá ser muita…
Hoje um péssimo dia. Palmilhei as ruas pedinchando e nada, nem uma moedinha, nem um cigarrinho, nada, e dou conta que a cama em papas, os papelões encharcados pela chuva, o pobre quando anda em maré de azar até os cães lhe mijam nas botas, e o pançudo do meu cão agora cismou que quer ser deputado, e começou a aprender a escrever,
- já escrevo o meu nome,
Aos poucos e devagarinho aprender a ler,
- juro pela minha honra…
E qual honra qual carapuça,
E por fim aprender a contar, um dois três,
- três mil euros mensais,
Dói-me o estômago e hoje apenas me alimentei de um texto de Luiz Pacheco, o gajo é maluco, mas quando a fome aperta tudo serve para dar corda aos sapatos…
(texto de quase ficção)
FLRF
28 de Março de 2011
Alijó