Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

30
Mar 11

O encarnado abraça-se no azul, e o castanho brinca com o amarelo, a minha tela começa a ter vida, cresce na sombra das palmeiras, e alimenta-se dos sorrisos da primavera, encosto-me ao relógio de parede, ele parado nas semanas sem comida, as horas esquecidas junto ao soalho, e escapam-se pelas frestas envelhecidas da sala onde me escondo.

A tela encharcada em cores, e eu, eu olho-me nela como se fosse um espelho. O meu rosto sobre a mesa e as minhas mãos à espreita na algibeira, o encarnado abraça-se no azul, e o castanho brinca com o amarelo, a minha tela começa a ter vida, cresce na sombra das palmeiras, alimenta-se dos meus lábios ressequidos da tarde em delírio, e na minha boca brincam as algas da preia-mar quando um marujo entra pelo mar, e o mar, o mar em silêncios de noite, e no relógio de parede as asas de um cisne que se dobram ao fechar da porta.

A tela embrulhada nas cores, e nas cores a minha mão poisada, ao de leve, e sem pressa, um comboio apressado corre em direcção ao Tejo, e do outro lado o Cristo Rei condena-me pelo meu Ateísmo; e quando no ontem eu nas margens do rio fumava e lançava sorrisos à água, e o Cristo Rei fazia-me caretas, odiava-me. Eu via nos seus olhos.

Lanço o meu esqueleto ao rio e chego ao mar.

Até Luanda é um saltinho.

 

 

 

(texto de ficção)

FLRF

30 de Março de 2011

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:16

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