Numa mão, tenho uma pedra de vinte e três faces,
(Ao som de Pink Floyd)
Na outra mão, uma corda imaginária,
Uma ponta ato-a à pedra de vinte e três faces
E a outra, passo-a pelo meu pescoço,
Rio-me perdidamente,
Dou um passo em frente
Direito ao abismo,
E curiosamente,
Não cai-o, fico suspenso; eu, a pedra,
E as vinte e três faces.
Concluo que deixou de haver gravidade,
Talvez deixe de haver gravidez,
Talvez…
Talvez os nove virgula oito metros por segundo
Voltem, talvez, a ressuscitar
Ao terceiro dia,
Talvez…
À minha volta, riem-se da minha figura,
Suspenso com uma pedra de vinte e três faces,
Uma corda, e o meu pescoço,
Para que me serve esta porcaria (pescoço),
Acima dos ombros
Abaixo da cabeça,
Apenas para atar uma corda…
E com uma pedra de vinte e três faces,
Ficar suspenso.
Voar.
Não foi a gravidade
Que deixou de acordar,
Não foram as mulheres que deixaram de engravidar,
Foi sim o teu olhar que me aprisionou,
(Não, não estou a falar de uma mulher)
E o meu corpo não resistiu
À tua força gravítica,
Possivelmente
Talvez…, brincando às escondidas, como uma criança
Em rotação pela infância,
Num qualquer buraco negro do universo,
Com verso
Conversando com o infinito.
És feito de tungsténio
Revestido a silêncios madrugada,
Sorris quando cada uma das tuas faces
Adormece na sombra da rotação
Da face anterior,
E tu, hipercubo da minha imaginação,
Olhas-me com carinho,
Medo de me perder;
Porque tu
Não dizes que sou louco,
Porque tu
Sabes ouvir-me quando preciso,
Porque tu
Sabes ler o fumo do meu cigarro,
Porque tu.
Porque tu
Deixas-me suspenso com uma pedra de vinte e três faces…
Luís Fontinha
Alijó