Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Mar 12

(dedicado ao visitante anónimo que algures em Moutain View, Califórnia, tem paciência para ler as porcarias que escrevo)

 

Fantasmas,

Pedaços de tecido em busca de um corpo, sombras que caminham durante a noite até ao rio e esperam pelo abraço de um relógio de pulso prisioneiro da maré, é assim a minha vida, fantasmas que entram ao cair da noite e desaparecem pela manhã, antes de acordar,

Antes de eu acordar e olhar-me no espelho, muito antes de eu ter tempo de colocar a minha mão sobre a mesa-de-cabeceira em busca de um livro perdido, e dou-me conta que até as personagens fugiram, escondem-se, gritam-me enquanto mergulho no sonho, uma bicicleta enferrujada corre e desce a calçada, um homem sem braços e sem pernas espera pacientemente a mão da solidão,

- Os dias são tristes porque as acácias deixaram de sorrir E nunca mais lhe ouvi a voz melódica que descia pelas teias de aranha da infância, E nunca mais

Fantasmas

- Percebi porque choravam as acácias, E nunca mais percebeu porque a melhor amiga o visita durante a noite, constrói um sonho e chora e tem fome e à sua volta todos os prédios da cidade enterram-se terra adentro, e nunca mais,

Pedaços de tecido em busca de um corpo, sombras que caminham durante a noite até ao rio e esperam pelo abraço de um relógio de pulso prisioneiro da maré, e os dias já não são dias, e as noites são gotinhas de dor em círculos concêntricos entre os seios e o púbis

- Porquê as acácias?

E quando uma janela se abre

- O desejo

As gotinhas de dor em cima da bicicleta e as gotinhas saltam para o rio e a bicicleta senta-se sobre o xisto onde uma tela em tons de azul espera que o homem sem pernas e sem braços fume o cigarro esquecido nas mão da solidão,

O desejo,

- Pedaços de tecido em busca de um corpo,

Os fantasmas disfarçados de sorriso

- O mar descansa nas mãos do pôr-do-sol e a janela do meu corpo cerra-se eternamente como se fosse um caixão de madeira que arde numa fogueira de livros e telas e palavras e fantasmas…

Os fantasmas disfarçados de sorriso em pedaços de tecido,

- Os meus amigos Fantasmas,

Quando os dias são tristes porque as acácias deixaram de sorrir…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:20

Março 2012
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