Submeto-me à inquietação líquida das palavras inventadas
quando deixas cair das tuas mãos
os pequenos silêncios embrulhados em lágrimas de açúcar
fico cansado ao escutar os teus murmúrios de insónia
oiço as palavras inventadas suspensas no tecto da solidão
e vejo na abobada celeste os finíssimos sorrisos do final do verão
há barcos de papel sobre a imunda minha secretária de madeira morta de incenso
há marés de olhares em todos os livros que li
e possivelmente deixarei de ler
(cansei-me dos livros e das noites sem estrelas de abelhas)
ou então aproveitarei todos os segundos para procurar nas palavras
os búzios invisíveis dos visitantes nocturnos
que me procuram sem que eu perceba que nos seus lábios
existem sílabas de suor com chá e torradas
segunda-feira
um dia de “merda” como tantos outros dias de “merda”
há cigarros
sobre a minha secretária de papel
onde brincam barcos de madeira
hoje
segunda-feira
um dia perfeitamente estúpido e sem cabeça.
(poema não revisto)