Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Set 12

este amor cinzento

afogado na garganta do deserto

este amor

doente

sem vento

que corre magoado dentro dos cortinados da noite

insensato homem de xisto com um coração de vulcão

este amor fino e doente e cinzento

como uma tempestade de granizo

e um ferro de insónia na mão

à procura de um olhar aberto

no ventre doente dos cortinados da noite

 

há ovos sem juízo

recheados com chocolate e pedaços de mel

este amor

ausente

lentamente

mergulhado em dor

e finíssimos beijos de papel

em suor amor flor...

 

estes lábios filhos do amor cinzento

este mar ausente

no lamento

das noites mergulhadas no sono do desejo

fio de beijo

na janela sem vidros para a felicidade

 

(levantava-me silenciosamente

e via os barcos de algibeira em algibeira

de boca em boca

de mesa em mesa

as garrafas da vodka suspensas no tecto que o púbis da dor engolia

os ciúmes

os fósforos silenciosamente

comprometidos com os alpendres do amor cinzento)

 

e eu era feliz...

 

hoje

meia dúzia de palavras burburinham nos restos da maré

e nos meus olhos os óculos escuros da morte

perdidos na planície do amor cinzento

 

e eu era feliz.

 

(poema não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:59

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