Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Set 12

Às escadas solitárias

da casa assombrada

um vidro de imensidão fúnebre

abraça o cadáver da noite

pergunto-me se o amor existe

ou

ou não passa de um sonho encalhado no oceano da insónia

perfeitamente mergulhada nas planícies entre as paredes da infância

 

às escadas

a solidão

às escadas da morte o perfume das rosas de papel

que a miúda do rés-do-chão esquerdo construiu com sorrisos de medo

e lágrimas de incenso

 

é de noite

e todas as estrelas dormem dentro da casa assombrada

 

às escadas solitárias

chegam os uivos e gemidos de um mar imaginado

que o miúdo com sorrisos de medo

irmão da miúda com sorrisos de medo

espera pela chegada das árvores do Outono

 

é de noite

e todas as estrelas dormem dentro da casa assombrada

 

e eu sinto-me milimetricamente enjaulado nas três paredes de veludo

com um crucifixo suspenso

circunflexo

à roulote da vida

o circo com trapezistas e palhaços e crianças com sono

 

é de noite

e todas as estrelas dormem dentro da casa assombrada

pergunto-me se o amor existe

e percebo que todos os cigarros da saudade

morreram

e hoje uma ténue luz substitui a clarabóias do sonho

 

se o amor existe

(quero-o).

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34

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