O dissilábico falso amanhecer
à mão de papel
que a noite desencanta
uma rua deserta
pura
alimenta as fissuras de um coração
aos parêntesis desenhados nos teus olhos roubados pela noite
longe dos oceanos
barcos engasgados no purpuro cabelo do vento
a alma do falso amanhecer
à mão transversal das paredes do destino
deus na janela do prazer
e alicerça-se em ti a saudade
como as palavras
como os desenhos invisíveis que a noite come no veneno do teu sofrimento
pura
alimenta
as fissuras de um coração com sal e pimenta
coitado de mim tão frágil dentro dos lençóis da insónia
pura
a alicerça-se
como o poema
dentro de um quarto com fotografias de corsários
e piratas
governando
não governar
as vaginais cansadas madrugadas abraçadas ao infinito
desiludidas canções de engate
o Rossio sentado em mim
e sinto-me uma gaivota perdida nas mamas do dissilábico falso amanhecer
hoje não é sábado
e a livraria está encerrada
o bar paralelepípedo do desejo olha o Tejo
saltita entre as aranhas da cidade adentro
um longínquo gemido atravessa a parede da paixão
hoje não é sábado
e a livraria está encerrada
a farmácia dos sonhos
com os livros de sexta-feira na algibeira do domingo saudável
desgraçadamente
não é sábado
e nunca acordarão os extintos medos dos teus braços de mel.
(poema não revisto)