Quanto pesa um sorriso. Um sorriso, sim, quanto pesa um sorriso, sei lá quanto pesa um sorriso, não sabes, não, não sei, diz-me tu, digo-te eu, porquê, porque foste tu que me perguntaste quanto pesa um sorriso, e quanto pesa, és doido, um sorriso não se pode pesar, não, claro que não, porquê, sei lá porquê, mas não se pode pesar…, quanto pesa o sorriso que se suspende do rosto dela, ontem, sob a neblina quando o sol marcava cinco e vinte cinco, precisamente, mais precisamente dezassete e vinte e cinco, fim de tarde, e o rio agarrado à minha mão nas carícias dos teus olhos, de lilases em silêncio, rodopiando na minha sombra, sim, diz-me tu, quanto pesa um sorriso, quanto pesa o sorriso dela, imprimido em papel fotográfico, digitalmente guardado das manhãs de inverno, longe do inferno, ausente no verão, parte incerta, volto já, fui-me, evaporei-me na sombra das oliveiras, quando eu matematicamente tento encontrar um equação para pesar um sorriso, porque tudo que existe, tem peso, será?
- Doido. Valha-te Deus, meu filho…
Diz-me tu. Diz-me tu quanto pesa um sorriso, quanto pesa a madrugada, diz-me tu, diz-me, sim, não tenhas medo, quanto pesa um abraço, e um sorriso pesa, tem movimento, massa, massa, sim, massa, e se o peso é igual à massa vezes a gravidade, o sorriso tem peso, diz-me, diz-me porque a tua sombra se alicerça no meu peito, e do teu sorriso, com peso, mensurável, um finíssimo raio de luz entra em mim, esconde-se na minha mão perdida nas tuas carícias, esquecida em ti, que da tua mão, um cisne sorri, abre a boca, e devagarinho, quase com medo, diz-nos quanto pesa um sorriso…, e esqueci-me quanto pesa o teu sorriso, mas tenho a certeza que tem peso, sinto-o na minha mão…
- Doido. Valha-te Deus, meu filho…
(texto de ficção)
Luís Fontinha