Quatro drageias de pólen embebidas em cianeto
para quatro homens de barro
mergulhados no poço da solidão
sem perceberem
eles
elas
nós
sem perceberem que o vulcão do silêncio morre lentamente
na mão malmequer do jardim abandonado
sem flores
quatro árvores de papel
um condenado
embriagado nas tuas palavras sem janelas para as rimas deixadas sobre a mesa
um prato de sopa
às cabeçadas entre as migalhas de pão
e a cozida cebola
que cintilam pedaços de pálpebras e corações grelhados com molho de paixão
amanhã vai estar frio
tem cuidado...
amanhã vai chover
não te molhes...
e ninguém
e ninguém me avisa quando vem a fome
e me diz
queres um prato com sopa?
uma folha de couve?
não senhor
não oiço
não bebo
não fumo
fodo às vezes quando calha
e quando calha
sou uma drageia de pólen embebida em cianeto
deitada sobre a mesa do pequeno-almoço
à espera
pacientemente
que um louco de barro me coma
e morra
e me leve para a montanha das quatro portas invisíveis.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha