dentro de ti um rio chamado saudade
do mar desencontrado das planícies agrestes do teu peito
dentro de ti uma manhã de nevoeiro
cansada
um barco ancorado
um barco choramingueiro
sem jeito para coisa alguma
nenhuma
no cais infinito dos buracos abismais
pesco letras e palavras em pedaços de jornais
choraminguei quando perdi o rio chamado saudade
que brincava dentro de ti,
assim
tão poucas as sílabas das tuas mãos de areia
abraçadas ao pôr-do-sol
e ao longe
uma nuvem de beijos
sobre os cinzentos lábios de espuma que a terra derrama nas faces da lua,
dentro de ti
um pequeno rio
palavras de silêncio
que o tecido cortinado da insónia
deixa ficar sobre a mesa-de-cabeceira
um rio
o mar
dentro de ti.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha