A fragrância das tuas sílabas em seios de andorinha
voando entre lábios e arbustos dos jardins meu peito envenenado
coisas boas
em Lisboa
um rio me chama
e um mar me engole
com sabor a poesia
e ruas de alegria
este louco amor
ao de leve os vulcões sem crateras corações de areia
uivas em gemidos constelações
que o mapa das estrelas lança sobre a lua,
queres só para ti o luar
e as janelas belas
que a noite deixa cair nas esplanadas ósseas dos orgasmos que os pássaros em teu redor
remoem
e saboreiam
a liquidificação do sémen das manhãs do eterno Inverno
no deserto enterro
as tuas mãos
em teus lábios desespero
o silêncio
que nas palavras prometidas
escreves e ditas e ditas e escreves,
porcarias sem sabor
hormonas voadoras como pássaros incolores
que o amor transporta nos dentes do desejo
desejas-me sabendo que no meu corpo
há parafusos de aço
roldanas
chapas metálicas e zincadas
placas de madeira que a lareira incendeia
come
alimenta
as verdes noites do prazer
quando todos os relógios em ti dormem comem e fodem,
o quê?
os governos fodem o povo
o povo fode o vizinho do lado
coitado
do sapateiro
e do barbeiro
fodidos eles
também
pelo governo que fode o povo
em nome de deus
o quê?
a primeira vez das palavras inquietas e amargas das árvores adormecidas,
(a fragrância das tuas sílabas em seios de andorinha
voando entre lábios e arbustos dos jardins meu peito envenenado
coisas boas
em Lisboa
um rio me chama
e um mar me engole
com sabor a poesia
e ruas de alegria)
comes-me sabendo que os meus ossos poeirentos
são a argamassa luz que rompe e zumba as paredes fictícias do arame de papel
debaixo das mimosas de tecido negro às coxas da maré
em Lisboa
o Tejo que fode o povo
fodido pelo governo
que voa
e voa
entre o desterro e os rochedos dos pénis agachados nas planícies Alentejanas
coitados
dos sapateiros e barbeiros
e as ruas da alegria...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó